Espetáculo no Teatro Universitário celebra 30 anos de companhia de dança unindo obra de Stravinsky a cosmogonias indígenas

12/09/2024 - 15:52  •  Atualizado 12/09/2024 15:57
Texto: Leandro Reis, com informações da assessoria do evento     Edição: Thereza Marinho
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Foto de um ato do espetáculo: um bailarino negro, coberto por tiras vermelhas está no centro do palco. Ao redor, outros bailarinos dançam segurando longas varas de bambu.

Celebrando 30 anos de atividades, a Companhia de Dança Deborah Colker chega ao Teatro Universitário para duas apresentações de Sagração, espetáculo que reúne referências à obra do compositor russo Igor Stravinsky e às cosmogonias de povos originários brasileiros. A Companhia se apresenta nesta sexta-feira, 13, e neste sábado, 14. Os ingressos estão esgotados.

Sagração estreou em março deste ano, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, palco onde a companhia encenou seu primeiro espetáculo, em 1994. Na nova obra, idealizada por mais de dois anos pela bailarina Deborah Colker, que também a dirige, a música clássica de Stravinsky encontra ritmos brasileiros e se vale de visões ancestrais sobre a origem do mundo. O espetáculo é uma adaptação de A Sagração da Primavera, de Stravinsky, que ganhou projeção mundial pela montagem estreada em Paris em 1913. A composição musical é considerada revolucionária por introduzir estruturas rítmicas e harmônicas nunca antes utilizadas em partituras.

“Quando decidi recontar esse clássico, pensei que teria de ser a partir da cosmovisão de povos originários do Brasil”, lembra Colker, que também é pianista. “Stravinsky foi responsável por pontos de ruptura e provocação entre o erudito e o primitivo. A Sagração da Primavera representa esses pontos de evolução da humanidade”.

Indígenas

O processo criativo do espetáculo teve início em uma viagem feita pela bailarina ao Xingu, no Mato Grosso, durante o Kuarup, festa dos povos indígenas da região que celebra os mortos. Na visita, Colker conheceu o cineasta Takumã Kuikuro, que contou à bailarina as histórias que mais tarde fariam parte da dramaturgia de Sagração.

Além da cosmogonia indígena, o espetáculo utiliza a mitologia judaico-cristã, como as passagens sobre Eva e a serpente e a história de Abraão, do livro do Gênesis. “Tudo só poderia ter começado com uma mulher. Uma avó. A avó do mundo”, diz Colker, que contou com a parceria do dramaturgo Nilton Bonder. “São dois mitos que elaboram sobre a consciência humana: pela autonomia de uma mulher que desperta para caminhos interditados e transgride; e de um homem que sai da sua casa e cultura em direção a si mesmo”, destaca Bonder.

Teorias

Além das alegorias bíblicas, a coreógrafa também buscou referências na literatura científica. “A versão mais recente da nossa espécie é a Homo sapiens sapiens que, assim como outros seres, precisa se adaptar constantemente”, pontua Deborah, destacando a presença das personagens que representam bactérias, herbívoros e quadrúpedes no espetáculo: “Nossa dramaturgia é feita da poesia presente em mitos e teorias que pensam a existência da vida em nosso planeta”.

Em parceria com o diretor musical Alexandre Elias, Colker introduziu à partitura instrumental de Stravinsky a sonoridade das florestas e dos ritmos brasileiros. Boi bumbá, coco, afoxé e samba foram introduzidos à criação de Stravinsky. Aos acordes de instrumentos de orquestra, o diretor musical adicionou flauta de madeira, maracá, caxixi e tambores. Os paus de chuva também entram em cena no arranjo, executados ao vivo pelos bailarinos.

Sagração conta com o apoio do Ministério da Cultura e do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e tem patrocínio da Petrobras.

Foto: Divulgação

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