Em conferência na Ufes, professor David Rodrigues defende educação que “repare injustiças”

02/09/2024 - 18:34  •  Atualizado 02/09/2024 18:46
Texto: Leandro Reis     Edição: Thereza Marinho
Compartilhe
Foto do professor David Rodrigues, em primeiro plano, no púlpito do teatro. Ao fundo, a vice-reitora e a professora Denise Meyrelles sentadas à mesa principal

A educação inclusiva é um direito, e um direito não tem condicionantes. A mensagem do professor David Rodrigues, Conselheiro Nacional de Educação em Portugal e especialista em educação especial, ecoou no Teatro Universitário nesta segunda-feira, 2, durante a Conferência Internacional de Educação Inclusiva, sediada pela Ufes. Rodrigues ministrou a conferência Educação Inclusiva: pensar os nossos futuros juntos e justos para um grande público, incluindo gestores de educação especial, professores da educação básica e do ensino superior da Região Metropolitana da Grande Vitória, membros da comunidade acadêmica e outros profissionais ligados à educação.

O evento é organizado pelo Gabinete da Reitoria, com apoio da Assessoria de Relações Políticas com a Comunidade Acadêmica e colaboração da Secretaria de Inclusão Acadêmica e Acessibilidade (Siac), e faz parte das celebrações em torno do aniversário de 70 anos da Universidade. Nesta terça-feira, 3, a partir das 18 horas, Rodrigues encerra sua participação com a conferência O direito à Educação: diversidade, inclusão e direitos humanos, no auditório do Centro de Ciências Exatas (CCE), no campus de Goiabeiras.

A apresentação desta segunda-feira contou com a presença da vice-reitora da Ufes, Sônia Lopes; da secretária de Inclusão Acadêmica e Acessibilidade, Cinthya Mascena; do diretor do Centro de Educação (CE) da Ufes, Reginaldo Sobrinho; do representante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), Menderson de Moura; da vice-presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado do Espírito Santo (Sinepe/ES), Roberta Ponelli; da coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Ufes, Tânia Mara Delboni; e da professora do CE Denise Meyrelles de Jesus, que compuseram a mesa do encontro.

Homenagem

Antes de iniciar a conferência, o professor David Rodrigues recebeu a homenagem de Honra ao Mérito pelos anos de colaboração e parceria com a Ufes, que data de 1994, ano em que o professor visitou a Universidade pela primeira vez. A professora Denise Meyrelles de Jesus  e a vice-reitora Sonia Lopes foram as responsáveis por entregar a homenagem a Rodrigues.

Para a vice-reitora, a inclusão não pode se limitar ao acesso à Universidade, mas deve abranger “a permanência e a apropriação efetiva do conhecimento”. Ela citou uma fala do próprio Rodrigues na Ufes, de 2013, quando o professor disse que “não se pode admitir uma universidade fechada em si mesma”.

“A universidade não pode nem deve ser centrada em si mesma, ela deve ultrapassar os muros, chegar à população e, claro, também trazer a comunidade para dentro, integrá-la. A inclusão não é uma escolha, mas sim uma responsabilidade que compartilhamos como educadores, gestores, cidadãos e agentes de mudança”, disse Lopes.

Imagem
Foto da parte interna do teatro universitário, mostrando o grande público presente. A fundo, a mesa de abertura.

“Juntos e justos”

O professor David Rodrigues começou esmiuçando um pouco do tema da conferência. Segundo ele, nosso contexto social nos “convida a estarmos sistematicamente separados, fechados, confortáveis”, quando o desafio que se coloca para a inclusão é justamente o contrário: “Aprender a viver juntos, ouvir o outro”, disse. “Mas viver juntos e justos, porque, por exemplo, em tempos como o da escravidão as pessoas viviam juntas, mas cobertas e rodeadas por injustiças”.

Ele enfatizou que a educação inclusiva é um direito e, como direito, “não tem ‘ses’”, isto é, não aceita condicionantes: “A inclusão é sempre um direito, com quaisquer meios, em quaisquer circunstâncias. Todos os alunos importam e importam o mesmo [tanto]. Alguns precisam de outros meios, mas merecem o mesmo tanto”.

Em visitas a outros países para participar de eventos similares, Rodrigues disse que já encontrou muitas escolas “incríveis” em países pobres, “escolas de elite, com currículo fantástico, instalações esportivas”, mas que, “ao lado, morria-se de fome”. Segundo ele, o desafio não é criar escolas de elite, mas contextos em que os mais vulneráveis sejam acolhidos. “A qualidade da educação de um país se mede pela qualidade que dou aos alunos que mais precisam”, afirmou.

Defendendo um “novo contrato social para a educação, que repare injustiças”, divulgado em 2021, Rodrigues retomou a ideia do filósofo e sociólogo francês Pierre Bourdieu, para quem “a escola é produtora e legitimadora de exclusões”. “Muitas vezes, vemos que são os alunos mais vulneráveis que são reprovados, que têm mais problemas de expulsão. No lugar de procurar reconfigurar a presença desses alunos, as escolas legitimam sua exclusão”, disse.

Para o professor, é preciso partir de cinco aspectos conceituais para discutir e aprimorar as diretrizes em torno da educação inclusiva: inclusividade, que é “a qualidade de incluirmos todos em ambientes comuns”; remoção de barreiras ou educabilidade universal, pois “todos são capazes de aprender”; inclusão como direito multiplicador, uma vez que a inclusão “multiplica as possibilidades de que a criança tenha outros direitos assegurados”; ambientes capacitantes, já que, segundo Rodrigues, “aprendemos com o ambiente em que estamos, ele nos capacita para sermos melhores”; e reforma educacional que, para ele, consiste em “projetos transversais, comuns a toda a escola”.

Fotos: Leandro Reis

Categorias relacionadas