O medo e a insegurança que as mulheres enfrentam dentro de casa foi analisado por um estudo realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Ufes (PPGSC). A pesquisa entrevistou 1.086 mulheres que vivem em Vitória, capital do Espírito Santo, e analisou os fatores relacionados à violência por parceiro íntimo (VPI) e ao estresse causado nas vítimas.
Do total das mulheres entrevistadas, 519 afirmaram ter sofrido VPI ao longo da vida. A tese revelou ainda que, desse grupo, 44,4% tinham idades entre 18 e 29 anos e 42,2% eram pardas. Além disso, 44,7% das vítimas eram casadas e 53,2% não possuíam trabalho remunerado.
“Observou-se também que mulheres mais jovens, na faixa de 18 a 29 anos, apresentaram médias de estresse mais elevadas em comparação com outras faixas etárias da amostra. Uma possível justificativa, conforme algumas pesquisas, é que tanto homens quanto mulheres desenvolvem melhores estratégias de enfrentamento dos eventos estressantes à medida que envelhecem”, destaca a enfermeira e pesquisadora Loys Siqueira, que desenvolveu o estudo em sua dissertação de mestrado e integra o Laboratório de Estudos sobre Violência, Saúde e Acidentes (Lavisa) da Ufes.
O objetivo da pesquisa, que foi orientada pela professora Franciéle Marabotti e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes), foi avaliar a percepção de estresse em mulheres com e sem histórico de violência praticado pelo parceiro íntimo ao longo da vida e durante a pandemia.
“Os resultados buscavam identificar se havia características sociodemográficas relacionadas a maiores médias de percepção de estresse entre mulheres que relataram ter sofrido violência por parceiro íntimo ao longo de suas vidas, assim como se existia associação entre a exposição à violência por parceiro íntimo (física, sexual e psicológica/emocional) e médias de estresse mais elevadas, tanto ao longo da vida quanto durante a pandemia”, explica a pesquisadora.
Ainda de acordo com Siqueira, um estudo piloto foi realizado no fim de 2021. Após a análise preliminar desse estudo embrionário, o trabalho de campo foi realizado por uma equipe formada apenas por entrevistadoras – alunas de graduação, pós-graduação e profissionais da área de saúde –, entre janeiro e maio de 2022.
“A pesquisa se concentrou na capital do estado devido a estudos anteriores que apontavam para as altas taxas de homicídios de mulheres no Espírito Santo, bem como uma prevalência elevada de violência por parceiro íntimo contra mulheres nesta região”, afirma.
Estresse
O estresse psicológico sofrido pelas mulheres, de acordo com Loys Siqueira, refere-se, sobretudo, a mudanças biológicas, “como a liberação de hormônios e o aumento da frequência cardíaca, e psicológicas, como percepção, nervosismo, ansiedade e preocupação, que são adaptativas e ocorrem em resposta às demandas externas”, elucida.
“Adicionalmente, de acordo com a teoria de estresse, enfrentamento e adaptação de Lazarus, o estresse é consequência da percepção individual, considerando a subjetividade”, complementa Siqueira.
Para a pesquisadora, o estresse psicológico afeta significativamente o corpo das mulheres. Porém, ele varia conforme a percepção do indivíduo. “O estresse relacionado à violência por parceiro íntimo é único devido à sua natureza cíclica, que inclui períodos de tensão, atos de violência e fases de calma relativa, contribuindo para uma percepção constante de alerta e sobrevivência”, ressalta.
“Estudos indicam que as vítimas descrevem essa experiência como avassaladora e comparável a entrar em modo de sobrevivência, causando impactos emocionais e pessoais significativos”, acrescenta.
Prevenção
Uma das conclusões da pesquisa é a necessidade da criação e fortalecimento de abordagens voltadas para a prevenção e uma intervenção eficaz em casos de violência por parceiro íntimo (VPI).
Para Siqueira, a prevenção desse tipo de violência precisa ser um compromisso duradouro para a construção de uma sociedade que respeite, proteja e empodere todas as mulheres. “A promoção de ambientes seguros e o apoio adequado às vítimas de VPI devem ser uma prioridade para garantir o bem-estar e a proteção das mulheres. A construção de uma sociedade justa e igualitária requer esforços contínuos e colaborativos, [na qual] a prevenção e a intervenção andem de mãos dadas para enfrentar a VPI e as suas consequências devastadoras”, conclui a pesquisadora.
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