Bloco ligado a grupos de pesquisa sobre saúde mental abre carnaval no Sambão do Povo

24/01/2024 - 16:00  •  Atualizado 29/01/2024 14:22
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“Pelo cuidado em liberdade! Cuidar sim, excluir, não!” Com esse tema, o bloco Que Loucura, vinculado a grupos de pesquisa da Ufes, vai desfilar no Sambão do Povo, na sexta-feira, dia 2 de fevereiro, abrindo o carnaval oficial de Vitória. Com início às 21 horas, a passagem do bloco antecede os desfiles das escolas de samba do Espírito Santo e vai levar a luta antimanicomial para a avenida. Os integrantes estarão em concentração a partir das 19 horas.

Usuários, familiares e trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente aqueles ligados aos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) dos municípios capixabas, entrarão no Sambão do Povo para, por meio da arte e da cultura, chamar a atenção do público para a importância do fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) e seus serviços.

Para a professora do Departamento de Terapia Ocupacional (DTO) e cocoordenadora do bloco Adriana Leão, abrir o carnaval de Vitória tem um significado especial para os integrantes do Que Loucura: “Não é apenas um desfile. É a possibilidade de iniciar o carnaval do país abrindo a avenida para o enfrentamento dos estigmas comuns no campo da saúde mental”.

Visibilidade

O bloco é uma iniciativa artística e cultural que surgiu em 2014 e foi fortalecida em 2022 a partir da parceria com os grupos de pesquisa Fênix e Políticas públicas e práticas em saúde mental e atenção psicossocial, ligados ao Departamento de Serviço Social (DSS) e ao DTO, respectivamente.

O objetivo do Que Loucura é promover a reabilitação psicossocial e a dignidade humana por meio da folia, dando visibilidade às pessoas com sofrimento psíquico e reconhecendo como cidadãos usuários e familiares atendidos na Raps.

Marchinhas

O repertório do bloco é composto por paródias com letras autorais, tendo, atualmente, mais de 30 composições. O enredo deste ano conta com quatro marchinhas que abordam a temática central do cuidado em liberdade. A marcha Maluca e Maluco, por exemplo, entoa: “Eu sou maluca, eu sou doidona, eu tô na luta por um SUS que funciona! Eu sou maluco, eu sou doidão, eu tô na luta contra toda a opressão!”

Os abadás utilizados pelas pessoas envolvidas no bloco são confeccionados por usuários dos Caps, para onde são destinados os recursos arrecadados com as vendas. A ideia é promover a geração de renda de pessoas com transtorno mental.

Saúde mental

Antes movimento social independente, atualmente o bloco é uma das atividades do projeto de extensão Saúde mental e atenção psicossocial: trabalho, arte, cultura e educação permanente e se apresenta de maneira autônoma em datas festivas da saúde mental, além de participar de diversos eventos ao longo do ano. O nome, Que Loucura, remete à pauta principal da ação: a saúde mental de usuários e seus familiares. “São pessoas em sofrimento psíquico-mental que demandam intervenções especializadas”, explica a outra coordenadora do projeto, a professora do DSS Fabíola Xavier.

Ela conta que a parceria com a Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial de Vitória (Liesge), que é realizada pelo segundo ano consecutivo, foi essencial para proporcionar mais visibilidade às atividades do Que Loucura. “Desde o início, as intervenções do bloco são fundamentais para garantir que pautas tão importantes, como a defesa do SUS público, gratuito e universal e da Raps voltada para a saúde pública sejam, de fato, levadas para toda a sociedade de forma lúdica, criativa e inventiva, fortalecendo, sobretudo, o cuidado em liberdade”, avalia Xavier.

Acolhimento

Em 2023, o bloco levou 420 pessoas para a avenida e as coordenadoras aguardam um público ainda maior este ano. “A alegria dessa grande festa é acrescida dessa importante oportunidade de participação social de todos que se apresentam no bloco. Para as pessoas que assistem, é a possibilidade de acolher a loucura que existe em todos nós”, finaliza Leão.

O documentário Que bloco é esse?, produzido após o desfile de 2023, traz relatos de pessoas que participaram do bloco e apresenta mensagens sobre a luta antimanicomial.

Mais informações sobre o Que Loucura podem ser obtidas no perfil do bloco no Instagram.

 

Texto: Adriana Damasceno
Fotos: Divulgação
Edição: Thereza Marinho