Um estudo realizado na Ufes desenvolveu um hidrogel para aprimorar a execução do enxerto ósseo. O osso é um tecido que se regenera lentamente comparado a outros tecidos do corpo humano, variando conforme a gravidade. Colocar o enxerto e aguardar a sua recelularização, como ocorre convencionalmente, é um processo demorado. Mas com a aplicação do hidrogel enriquecido na estrutura do enxerto, espera-se acelerar a cicatrização óssea.
O hidrogel produzido é derivado de osso bovino fetal. Essa estrutura, que geralmente é descartada, foi submetida a um processo de descelularização, que retira todos os componentes da matéria orgânica do boi e que preserva a estrutura óssea. Essa, por sua vez, foi cortada em tamanhos e formatos distintos: bloco, cilindro e em pó.
“Com isso, temos a estrutura do enxerto. Então, temos esses diferentes modelos de biomaterial para se encaixarem de acordo com a lesão do paciente. E isso já existe no mercado. O que fizemos foi digerir a estrutura óssea, obtendo o material necessário para o hidrogel. A partir disso, o enriquecemos com PRP [plasma rico em plaquetas] e, por fim, banhamos a estrutura óssea com o hidrogel”, declara a pesquisadora Fernanda Colombeki, que realizou o estudo durante seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Ufes (PPGB).
Diferencial
O diferencial da pesquisa consiste na utilização de PRP, extraído pelo processo de centrifugação do sangue, que o separa dos demais elementos. Esse recurso contém fatores de crescimento que, ao serem aplicados no hidrogel, potencializam seus efeitos de cicatrização óssea.
O plasma é uma parte do sangue composta por água e proteínas. Sua função é facilitar a circulação das células sanguíneas. As plaquetas, por sua vez, são agentes responsáveis pela reparação de vasos sanguíneos e cicatrização de feridas a partir da formação de coágulos. Esses fatores, alinhados às substâncias de teor cicatrizante do próprio hidrogel, podem tornar a cicatrização mais efetiva.
Na foto, osso bovino entre lavagens do processo de descelularização.
Testes e possibilidades
Por ser proveniente de pesquisas recentes, a tendência é que esse biomaterial seja usado em pequenos casos, como em cirurgias odontológicas e que envolvem pequenas lesões. Para além do mercado, também pretende-se implementar a pesquisa no Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo maior acessibilidade para o tratamento de lesões no tecido ósseo.
Colombeki explica que o hidrogel ainda está em fase de estudos e que ainda não foi submetido aos testes finais.“Os resultados iniciais apontaram que o PRP é muito promissor em potencializar a regeneração óssea. Foi realizado um teste específico de proliferação celular, comparando o hidrogel puro e o hidrogel com o PRP. Essas substâncias foram aplicadas em células tronco e em sequência, foi possível perceber que as células tronco estimuladas com o Hidrogel PRP tinham maior proliferação celular”, detalha Colombeki.
O estudo é vinculado ao PPGB da Ufes e conta com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes) e do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi).
Para além dessa pesquisa, a produção de biomaterial ósseo, que pode ser usado em procedimentos ortopédicos e odontológicos, já garantiu a Ufes a conquista de sua 14° patente. Veja aqui.
Texto: Ghenis Carlos Silva (bolsista em projeto de Comunicação)
Fotos: Acervo da pesquisa
Edição: Thereza Marinho