Grupo de pesquisa lança site onde público pode ouvir o mapa sonoro de regiões da Grande Vitória

25/09/2020 - 18:29  •  Atualizado 29/09/2020 12:43
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Já é possível fazer trajetos sonoros pela cidade de Vitória de forma on-line. O grupo de pesquisa Ateliê de Sonoridades Urbanas lançou o site https://sonoridadesurbanas.com/, por meio do qual o público pode acompanhar o trabalho de investigação de sons da capital e de algumas cidades da Região Metropolitana e compreender as formas como os territórios são configurados pelos habitantes por meio da manipulação dos sons.

O site é uma das metas do projeto aprovado na Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e vinha sendo desenvolvido no decorrer do primeiro semestre de 2020. O projeto prevê o mapeamento de sons de sete regiões da capital: o eixo que liga a Piedade à praça Costa Pereira e à Vila Rubim; o eixo que liga o Parque Tancredão, a praça de Caratoíra e o Sambão do Povo; a orla (curva da Jurema, Praça dos Namorados e Camburi); o eixo Ufes e praça de Jardim da Penha; o eixo que liga o Quartel de Maruípe ao Parque Barreiros; a região da Ilha das Caieiras; e o eixo que liga a praça de Jucutuquara ao trevo Fradinhos.

“Escolhemos esses lugares porque são o que consideramos centralidades da cidade. São locais que articulam a vida urbana das regiões que ocupam e da cidade como um todo e reúnem atividades comerciais, de lazer e vida boêmia”, explica o coordenador do grupo de pesquisa Pedro Marra, do Departamento de Comunicação Social.

Segundo o coordenador, os mapas são móveis e estão em constante atualização, “porque a cidade muda o tempo inteiro”. Apesar de considerar que o trabalho está bem adiantado em algumas regiões, Marra afirma que a pandemia da COVID-19 dificultou as ações de campo: “Com o isolamento social, não conseguimos estar na cidade para gravar da maneira que gostaríamos”.

O site apresenta alguns dos sons captados nos espaços da capital, além de trazer reportagens que os estudantes do curso fazem sobre lugares da Grande Vitória para a disciplina de Radiojornalismo, que tem Marra como professor. “No futuro, pensamos que esse tipo de ferramenta pode auxiliar na elaboração de metodologias participativas de planejamento urbano, ajudando, inclusive, a pensar sistemas integrados de mobilidade urbana e temporização de semáforos, por exemplo”, analisa.

Percepção

O Ateliê de Sonoridades Urbanas é um grupo interdisciplinar de pesquisa, ensino e extensão criado em 2017. Conta com a cocoordenação da professora Thaíse Madeira, do Centro Universitário Salesiano (UCV), e com a participação de dez membros, entre professores, pesquisadores e estudantes das áreas de Ciências Sociais Aplicadas da Ufes.

O grupo busca responder à questão central: quais são (e de que forma) os sons, vozes, músicas, ruídos e vibrações que os habitantes das cidades manipulam em seu cotidiano para configurar o lugar? Para o professor Pedro Marra, o som ajuda na percepção do uso que as pessoas fazem dos lugares e como tais práticas reconfiguram os locais. “Temos percebido o som como elemento importante para dinâmicas de conformação de fronteiras entre lugares da cidade, na conformação de ambientes que propiciam ou dificultam certos usos de lugares e na captura da circulação de fluxos pela cidade. Assim, o som é um artefato importante para se partilhar, disputar ou lotear a cidade”, explica.

Sonoridades

O Ateliê vem conduzindo a pesquisa Fazer com sons: técnicas sônicas, práticas socioculturais e territorialidades urbanas, projeto que investiga o papel das sonoridades nas dinâmicas de conformação dos territórios urbanos, destacando o caráter participativo dos cidadãos e habitantes da cidade nesses processos. Além de analisar fenômenos multisensórios, como música ao vivo ou gravada em estabelecimentos comerciais, falas e gritos em protestos, manifestações populares tradicionais e midiáticas e atividades de lazer e esportivas, o grupo também desenvolve peças sonoras que buscam tornar audível o conhecimento desenvolvido em suas pesquisas.

Os estudos partem do princípio de que os sons ocupam espaços e têm o poder de realizar ações e fazer outros atores agirem, produzindo fronteiras invisíveis, mas materiais, participando das disputas e negociações em torno do uso e do significado dos espaços públicos. “De modo geral, o grupo pesquisa o som na cidade como elemento fundamental da sociabilidade urbana, na formação de redes comunicativas e na conformação dos espaços urbanos”, conclui Marra.

Mais informações sobre o trabalho desenvolvido pelo Ateliê de Sonoridades Urbanas podem ser obtidas pelo e-mail sonoridadesurbanas@gmail.com.

 

Texto: Adriana Damasceno
Edição: Thereza Marinho