Seguir uma alimentação tradicional brasileira – com arroz e feijão – ou adotar uma dieta rica em frutas, verduras, castanhas e peixes está associado à redução de peso e da gordura corporal ao longo do tempo. Essas e outras constatações estão reunidas no boletim especial do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, o Elsa-Brasil, publicado em celebração ao Dia Mundial da Alimentação, comemorado nesta quinta-feira, 16. As análises são conduzidas por vários pesquisadores brasileiros, entre eles as professoras da Ufes Carolina Perim (Departamento de Educação Integrada em Saúde) e Maria del Carmen Molina (programas de pós-graduação em Nutrição e Saúde e em Saúde Coletiva) e o professor da Ufes José Geraldo Mill (Departamento de Ciências Fisiológicas).
No que diz respeito aos ultraprocessados, o estudo aponta que refrigerantes, sucos industrializados, biscoitos, embutidos (linguiça, salsicha, presunto e mortadela) e salgadinhos foram associados a maior risco de várias doenças. Os participantes que bebiam um copo médio (240 mililitros) de refrigerante por dia tiveram até 23% mais risco de hipertensão, diabetes e síndrome metabólica. “No geral, quem consome mais alimentos ultraprocessados têm maior chance de desenvolver obesidade, hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia, além de depressão. Um aumento de 10% no consumo diário desses produtos elevou o risco de morrer por qualquer causa em 10% e por doenças crônicas em 11%”, diz um trecho do estudo.
O consumo de sal permanece muito acima do recomendado: a média foi de 11 gramas por dia, mais que o dobro do limite sugerido pela Organização Mundial da Saúde (5 gramas). Homens consomem cerca de 38% mais sais do que mulheres, revelando diferenças importantes nos hábitos alimentares. Em relação às bebidas alcoólicas, metade dos participantes relatou consumo regular. A cerveja foi a bebida mais consumida, seguida de destilados entre os homens e de vinho entre as mulheres. O consumo excessivo de álcool aumentou o risco de hipertensão, obesidade abdominal e triglicerídeos elevados, sendo os efeitos mais acentuados nos homens.
Por outro lado, o hábito de consumir café de forma regular (duas a três xícaras pequenas por dia) esteve associado a menor risco de diabetes e hipertensão, além de melhor desempenho de memória e linguagem entre pessoas com mais de 65 anos. Enquanto os laticínios, principalmente os desnatados, relacionaram-se a níveis mais baixos de pressão arterial e melhor saúde cardiovascular. Quem consumia mais laticínios teve 24% menos chances de desenvolver diabetes e até 64% menos risco de morrer por doenças cardiovasculares.
Relevância
Desde 2008, o Elsa-Brasil acompanha a saúde de mais de 15 mil adultos e idosos em seis capitais brasileiras, com o objetivo de gerar conhecimento científico sobre doenças crônicas no país. De lá para cá, foram produzidos cerca de cem artigos científicos que reúnem os principais achados sobre padrões alimentares, considerando aspectos como qualidade da dieta, padrão alimentar, bebidas alcoólicas, bebidas açucaradas, entre outros.
Na visão de Molina, os estudos desenvolvidos têm como objetivo subsidiar a criação de políticas públicas ligadas à temática. “Este é o maior estudo da América Latina de acompanhamento de adultos e idosos ao longo do tempo e, além de nortear a criação de políticas públicas, eles são de grande importância na área clínica, na formação de recursos humanos e nas respostas às doenças crônicas baseadas em resultados provenientes de estudos na população brasileira”. Há 18 anos temos resultados baseados na nossa realidade”, avalia.
O Dia Mundial da Alimentação foi criado em 1979 pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com a missão de conscientizar sobre a fome no mundo e promover a segurança alimentar.
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Universidade Federal do Espírito Santo