A identificação inédita de seis linhagens distintas do vírus Oropouche em circulação no Espírito Santo garantiu à estudante de doutorado Ágata Rossi, do Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas (PPGDI/Ufes), o Prêmio Paulo Sodero Martins de Melhor Trabalho em Genética Evolutiva. A premiação foi concedida em agosto, durante a 70ª edição do congresso internacional Genética 2025 (International Congress of The Brazilian Genetics Society). O reconhecimento destacou a relevância do estudo que documentou, pela primeira vez, a expansão do vírus para regiões da Mata Atlântica e revelou os mecanismos de sua rápida dispersão na região Sudeste do Brasil.
Tradicionalmente restrito à Amazônia, o vírus Oropouche surpreendeu especialistas em 2024, ao causar um dos maiores surtos já registrados fora da região. Somente no Espírito Santo, foram confirmados 3.300 casos entre março e dezembro, o que representou quase um quarto das notificações brasileiras naquele ano.
Intitulado Epidemiologia Genômica da Emergência do Vírus Oropouche no Espírito Santo, Brasil (2024), o trabalho é um dos desdobramentos do Projeto Oropouche, fruto da cooperação entre a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa/ES), a Secretaria de Estado da Agricultura (Seag/ES) e a Ufes, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).
Uma equipe formada por pesquisadores do Laboratório de Genômica e Ecologia Viral (LaGEV/Ufes) e do Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo (Lacen/Sesa) analisou 256 genomas completos do vírus circulante no estado. Os resultados apontaram para múltiplos eventos de introdução viral, com linhagens exclusivas do Espírito Santo e outras compartilhadas com estados vizinhos, como Bahia e Rio de Janeiro.
Ondas epidêmicas
O estudo também identificou duas ondas epidêmicas distintas no Espírito Santo: a primeira, entre março e julho, atingiu municípios do norte ao centro do estado; a segunda, de agosto a dezembro, foi mais intensa e alcançou a região metropolitana e o sul. “Além disso, as análises genéticas indicaram que o vírus já circulava silenciosamente no Espírito Santo entre janeiro e fevereiro de 2024, semanas antes da detecção clínica dos primeiros casos”, explica Rossi, que desenvolve suas pesquisas no LaGEV/Ufes.
Orientador do estudo e coordenador do LaGEV, o professor do PPGDI Edson Delatorre explica que o trabalho desenvolvido por Rossi fornece informações fundamentais para a compreensão da dispersão e da evolução do vírus Oropouche, responsável pelo “maior surto registrado na história recente do Brasil”. Segundo ele, os dados gerados pela pesquisa ajudarão a Sesa a elaborar estratégias mais eficazes de vigilância e controle da doença, diagnósticos e desenvolvimento futuro de vacinas.
Produção de conhecimento
“Esta premiação em um evento de porte internacional é motivo de enorme orgulho e um reconhecimento de que a ciência produzida aqui na Ufes está na fronteira do conhecimento. Ela recebeu um dos prêmios mais importantes da Sociedade Brasileira de Genética, durante o congresso internacional, com um estudo que é de extrema relevância no contexto atual da saúde pública. Ele não apenas evidencia a excelência da pesquisa desenvolvida no nosso programa de pós-graduação e no nosso laboratório, mas também é um exemplo concreto de como a Universidade, em cooperação com o poder público, gera conhecimento que serve diretamente à sociedade”, avalia.
Para Rossi, a pesquisa produziu conhecimento estratégico para proteger a população capixaba, que não tinha tido contato anterior com o vírus: “Nosso estudo ajuda a entender a dinâmica de expansão do vírus e a preparar o sistema de saúde para responder, de forma mais rápida e eficaz, a futuras epidemias. O reconhecimento que tivemos reforça a importância da pesquisa feita em nossas universidades públicas e motiva ainda mais a continuidade dos nossos estudos sobre arboviroses emergentes no Brasil”.
Fotos: Agência Brasil e LaGEV/Ufes
Universidade Federal do Espírito Santo