
Centenas de criadores de abelhas nativas, pesquisadores, estudantes e pessoas da comunidade local se reuniram no município de Venda Nova do Imigrante no último final de semana para participar do evento Conhecendo a Uruçu Capixaba, abelha símbolo das montanhas do Espírito Santo. O encontro foi uma iniciativa de pesquisadores do projeto Uruçu Capixaba: uma estratégia multidisciplinar para conservar a abelha do Espírito Santo, coordenado pela Ufes e pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) com o objetivo de estimular e orientar sobre a criação da abelha sem ferrão nativa do Espírito Santo, que produz mel de alta qualidade, contribui de forma relevante para a polinização da Mata Atlântica e está ameaçada de extinção.
O evento contou com a presença do reitor da Ufes, Eustáquio de Castro, e de representantes de instituições que também participam do projeto, como o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes); o Centro Nacional de Recursos Genéticos (Cenargen) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper); o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema); associações de meliponicultores (criadores de abelhas sem ferrão) do estado; e o Instituto Abelhas Nativas.
“O Projeto Uruçu Capixaba é extremamente importante para a Universidade. Ele envolve pesquisadores, estudantes e, essencialmente, pequenos criadores do Espírito Santo que estão investindo na meliponicultura. A abelha Uruçu Capixaba é um patrimônio natural do nosso estado, ainda desconhecido, e que existe a uma altitude acima de 800 metros, na região das montanhas capixabas. É dever do estado proteger esse patrimônio natural e nosso projeto busca contribuir com essa preservação”, afirmou o reitor.
O encontro foi realizado no campus do Ifes em Venda Nova do Imigrante e contou com palestras e rodas de conversa, visita técnica ao Meliponário Venda Nova, oficinas sensoriais de degustação de mel nativo e a inauguração de uma loja de meliprodutos. Na parte formativa, foram abordados temas como Importância das abelhas sem ferrão na polinização na agricultura local; Conservação de meliponíneos no ambiente rural; Meliponicultura: passado, presente e futuro; Potencial de produção de mel de terroir no Espírito Santo; Manejo conservacionista e monitoramento da melipona capixaba; e Os desafios de conciliar a criação e a conservação da Uruçu Capixaba.
Labelhas
O professor do Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas (campus de São Mateus) Vander Tosta, coordenador do projeto na Ufes, lembra que a iniciativa teve início em novembro de 2023, quando foi contemplada no edital Funbio - Renova (Rede Biodiversidade Rio Doce) nº 04/2023. “Estamos tentando construir projeto que estimule a criação racional da melipona capixaba, que possa agregar valor para o mel de altíssima qualidade que essa abelha produz, mas que também conserve essa espécie, que está ameaçada de extinção, para que ela seja criada na região próxima à mata”, destaca.
Tosta explica que, na Ufes, o projeto é desenvolvido por meio do Laboratório de Genética, Evolução e Conservação de Abelhas Nativas da Ufes (Labelhas). “A Ufes é totalmente responsável pela organização e execução do projeto. Aqui, coordenamos quatro dos seis objetivos do projeto, que são: determinar a área de distribuição da espécie Melipona capixaba através de levantamento em parques e reservas e em meliponários do estado; levantar dados sobre a ocorrência da espécie e montar uma coleção biológica de referência; analisar a contaminação por metais pesados do mel, pólen e geoprópolis da Uruçu Capixaba; sequenciar o genoma e analisar a diversidade genética dessa abelha; capacitar meliponicutores; e promover ações de educação ambiental envolvendo a espécie”, detalha. Além do professor, participam do Labelhas um bolsista de pós-doutorado, um bolsista de apoio técnico e cinco bolsistas de Iniciação Científica, além de uma bolsista de mestrado da UFV.
Segundo Tosta, a Uruçu Capixaba existe a uma altitude entre 800 e 1.200 metros, na região das montanhas capixabas, em uma área de 354 quilômetros quadrados, envolvendo 12 municípios. Atualmente, as associações de meliponicultores existentes no Espírito Santo – a Associação dos Meliponicultores do Estado do Espírito Santo (Ame/ES) e a Associação de Meliponicultores Capixabas do Espírito Santo (Amecap/ES) – reúnem cerca de 300 associados.
Fotos: Organização do evento