Alunas de graduação em Matemática do campus de Alegre criam movimento em prol da representatividade feminina no curso

16/05/2025 - 12:16  •  Atualizado 16/05/2025 12:46
Texto: Adriana Damasceno     Edição: Thereza Marinho
Compartilhe
Logomarca do FeminiMat: uma raiz quadrada com o símbolo de feminino em um fundo rosa

Problematizar a representatividade feminina no campo científico da Matemática por meio de reflexões e questionamentos: esse é o principal objetivo do FeminiMat Ufes, movimento criado por quatro alunas do curso de graduação em Matemática do campus de Alegre, que visa valorizar a representatividade feminina nas Ciências Exatas e fortalecer as trajetórias de mulheres matemáticas. Desde o surgimento, em 2022, o grupo promove pesquisas, palestras e eventos sobre a contribuição feminina para o avanço da área.

O FeminiMat é uma iniciativa das estudantes Daiana Oliveira, Karina Santos, Samira Chevi e Nathalia Moura, que se interessaram por pesquisar a relação entre a matemática e o feminismo após conhecerem a vida e a obra da matemática alemã Emmy Noether em uma das aulas do curso. “Ela deu uma contribuição à matemática tanto profunda quanto pouco reconhecida. A partir desse encontro inspirador, começamos a nos perguntar: ‘por que quase não vimos outras mulheres sendo mencionadas ao longo da escola e da graduação?’ Passamos, então, a pesquisar histórias de mulheres na matemática, especialmente de mulheres negras. Esse mergulho revelou não apenas nomes esquecidos, mas também narrativas de resistência, talento e superação, que raramente fazem parte do currículo tradicional”, aponta Chevi.

Imagem
Foto das estudantes Daiana Oliveira, Karina Santos, Samira Chevi e Nathalia Moura
As estudantes Daiana Oliveira, Karina Santos, Nathalia Moura e Samira Chevi

As estudantes passaram, então, a participar de atividades relacionadas ao assunto, como a segunda edição da Semana Acadêmica de Matemática (Semat/Ufes, em Alegre), que trouxe como tema principal Matemática e Diversidades; e um evento realizado no Instituto Federal Fluminense (IFF) de Bom Jesus do Itabapoana, no qual foram debatidas as lutas das mulheres nas Ciências Exatas. O FeminiMat também atuou na Semana de Acolhimento dos Calouros do curso de Matemática/Licenciatura, em 2023, na qual as criadoras do movimento deram uma palestra.

Toda essa trajetória culminou na produção de dois Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC): Políticas de permanência e processos de evasão de mulheres em cursos de Ciências Exatas em universidades brasileiras: uma revisão de literatura, que está em fase de desenvolvimento por Chevi; e Mulheres na Matemática: desafios e perspectivas em um campo de dominação masculina, produzido em parceria, por Oliveira e Santos. Esse último trabalho deu origem ao artigo Mulheres na pós-graduação em Matemática: desafios e perspectivas em um campo de dominação masculina, recentemente publicado no Boletim Cearense de Educação e História da Matemática (BOCEHM), revista vinculada à Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Motivação

O artigo teve orientação da professora do Departamento de Matemática Pura e Aplicada (DMPA) Alana Pereira, que também orienta outros estudos e projetos desenvolvidos pelas integrantes do FeminiMat. “A atuação da professora Alana tem sido fundamental para o nosso movimento. Foi ela que nos motivou a aprofundar nossos estudos sobre a temática, a acreditar na relevância do que produzimos e a dar um passo além, encorajando-nos a transformar nosso trabalho em um artigo científico. Mais do que uma orientadora acadêmica, ela é uma das forças que sustentam o FeminiMat hoje, impulsionando-nos a continuar pesquisando, questionando e ocupando espaços”, ressalta Oliveira.

Imagem
Foto da professora Alana com as estudantes Daiana Oliveira e Karina Santos
A professora Alana, ao centro, com as estudantes Daiana Oliveira e Karina Santos

Atualmente, Chevi é a única representante do FeminiMat que segue vinculada à Ufes, já que Oliveira e Santos se formaram no ano passado e Moura precisou se afastar do curso antes do fim da graduação. Mas, segundo elas, o movimento permanece ativo. “Seguimos trocando ideias, produzindo conteúdos e fortalecendo nossos ideais. Somos profundamente gratas umas às outras pela força que nos demos ao longo dessa trajetória e também aos professores que nos ajudaram. Desejamos que o FeminiMat continue sendo um movimento vivo dentro do nosso curso de Licenciatura em Matemática e na Ufes e sonhamos que ele siga inspirando mulheres. Estamos abertas à chegada de novas integrantes para que a luta continue, se renove e se fortaleça a cada ciclo”, conclui Santos.

Minoria

A Ufes tem dois programas de pós-graduação (PPG) em Matemática, ambos sediados no campus de Goiabeiras, em Vitória: o PPGMat, programa acadêmico que oferece o curso de mestrado em Matemática; e o ProfMat, programa que oferece o curso de mestrado profissional de Matemática em Rede. Segundo a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPPG), o PPGMat tem, atualmente, 21 docentes e 20 estudantes matriculados, dos quais cinco são professoras e seis são alunas. Já o ProfMat conta com dez docentes e 72 estudantes e, desse total, há uma professora e 25 alunas.

Já a graduação em Matemática é ofertada em três campi: Alegre, no Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde (CCENS); Goiabeiras, no Centro de Ciências Exatas (CCE); e São Mateus, no Centro Universitário Norte do Espírito Santo (CEUNES). Dados da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) mostram que a Ufes tem, atualmente, 176 alunas e 273 alunos matriculados.

Fotos: FeminiMat