Mães universitárias: possibilidades e desafios enfrentados por estudantes que precisam conciliar estudos e maternidade

09/05/2025 - 16:03  •  Atualizado 09/05/2025 16:35
Texto: Adriana Damasceno     Edição: Thereza Marinho
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Imagem de uma mãe estudando, tendo ao lado um notebook e um bebê sentado em uma cadeirinha

Ellen Bazoni, 38 anos, aluna do segundo período do curso de Pedagogia, e Natiely Monteiro, 41 anos, estudante de mestrado em Oceanografia Ambiental. Além de universitárias, outro ponto une essas duas mulheres: ambas são mães e definem como “muito difícil” a conciliação entre estudos e maternidade, principalmente por fatores que incluem falta de suporte e acesso a políticas públicas adequadas.

Uma pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) explorou os principais desafios vividos por alunas a partir da experiência da maternidade e como os suportes influenciam a trajetória acadêmica de universitárias que têm filhos. “A trajetória acadêmica das mulheres que vivenciam a maternidade é permeada por desafios estruturais que vão desde a sobrecarga de tarefas até a escassez de suporte institucional adequado. O acesso ao ensino superior não é suficiente para garantir a permanência e o sucesso acadêmico desse grupo”, avalia a autora do estudo Suportes (ou falta de suportes?) – Estudos sobre a trajetória acadêmica de estudantes universitárias que são mães, Juliana Nascimento, que entrevistou 22 mães que estudam em oito universidades do sudeste brasileiro, sob a orientação do professor do PPGP Alexsandro de Andrade.

“Entre as consequências dessas dificuldades acadêmicas está a retenção, caracterizada pelo tempo prolongado para a conclusão do curso e a busca por interromper a graduação”, afirma a pesquisadora.

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Foto de Natiely Monteiro ao lado da filha
Natiely Monteiro

Mãe de quatro filhos com idades entre cinco e 17 anos, Bazoni diz já ter pensado em desistir “diversas vezes, a todo o momento”. Do mesmo modo, Monteiro (que tem uma filha de cinco anos) já pensou em largar o mestrado devido a questões como solidão, prazos apertados para entregas de atividades e falta de empatia e incentivo. “Gestar e maternar são acontecimentos muito importantes na vida de uma mulher e a sociedade não deveria nos colocar numa posição de ter que escolher entre ter uma carreira ou ter filhos. O que não me deixa desistir é perceber que eu posso traçar meu próprio futuro e ter quantos filhos eu quiser. A decisão de ser mãe é pessoal e não deveria ser questionada por ninguém”, destaca a mestranda.

Assistência

Em sua pesquisa, Nascimento identificou que 18 instituições de ensino superior (IES) da região sudeste do país oferecem políticas voltadas especificamente para estudantes com filhos e a Ufes é uma destas IES. Por meio da Pró-Reitoria de Políticas de Assistência Estudantil (Propaes), a Universidade destina o valor mensal de R$ 400 para custeio de parte das despesas com creche, pré-escola ou pessoa cuidadora a estudantes da graduação cadastrados no Programa de Assistência Estudantil (PAE) que possuam criança com até cinco anos e 11 meses de idade. No último semestre, 61 estudantes estavam cadastrados no PAE, que está com edital aberto até o próximo dia 12.

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Foto de Ellen Bazoni de costas, andando em uma calçada e segurando dois filhos pela mão
Ellen Bazoni

Instalado no campus de Goiabeiras, o Colégio de Aplicação (CAP) Criarte é outro suporte institucional disponibilizado pela Ufes às mães estudantes. O CAP Criarte é um espaço de educação infantil vinculado ao Centro de Educação (CE/Ufes) e, segundo a pedagoga Flávia Sperandio, a escola se constituiu como um espaço de excelência na formação de crianças e estudantes de diversos cursos. “O atendimento se ampliou e hoje as vagas são universalizadas, contemplando não só filhos e servidores e estudantes da Ufes, mas também a comunidade externa à universidade. Isso reforça a função social da escola como parte de uma rede na construção da cidadania”, destaca.

Ponto de apoio

O CAP Criarte é considerado por Bazoni e Monteiro como um ponto de apoio fundamental na experiência da maternidade durante a vida acadêmica na Ufes. “É inexplicável a participação da Criarte na minha vida. A equipe talvez não imagine o que fez com uma mulher, mãe, desempregada, sem perspectiva nenhuma. Hoje sou estudante e bolsista de iniciação científica muito graças ao apoio das mulheres de lá, que sempre me deram forças para voar”, sintetiza Bazoni.

Para outras mulheres que também precisam conciliar a vida acadêmica com a maternidade, Monteiro deixa um recado: “Se elas querem, elas podem. Mas não depende só delas, o ambiente acadêmico deve ser leve, não um lugar tóxico que acaba fazendo com que as mulheres e mães tenham uma experiência hostil. A luta é grande e devemos nos unir sempre”.

Fotos: Freepik e arquivo pessoal das entrevistadas

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