Na sequência do primeiro feriado nacional em memória de Zumbi dos Palmares e em comemoração ao Dia da Consciência Negra (celebrado na última quarta-feira, 20), o portal da Ufes dá continuidade à série especial que apresenta a trajetória de alguns dos professores negros da Universidade. Dessa vez, a história a ser contada é da bióloga Tatiana Souza, mestre e doutora em Biologia Celular e Molecular que pesquisa Ecotoxicologia e Mutagênese Ambiental, cujo foco está no estudo dos efeitos tóxicos de substâncias químicas naturais e sintéticas sobre organismos expostos.
Licenciada e bacharel em Ciências Biológicas, desde 2010 ela é professora do Departamento de Biologia do Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde (DB/CCENS), campus de Alegre, que conta atualmente com 110 docentes, dos quais 32 (29%) se autodeclaram pretos ou pardos (dados da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas - Progep). Souza trabalha com bioindicadores vegetais, invertebrados terrestres (minhocas e diplópodas) e vertebrados (peixes), utilizando diferentes abordagens, como ensaios de toxicidade aguda, fisiológicos, de comportamento, reprodução, morfológicos e outros ensaios que permitem a avaliação dos efeitos dos contaminantes no ciclo mitótico e sobre o DNA.
A professora coordena o grupo de pesquisa Eco(geno)toxicidade (Ecogen/Ufes), no qual, juntamente com seus orientandos do curso de graduação em Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento (PPGGM), investiga os efeitos de agrotóxicos sobre organismos não alvo (como abelhas, minhocas e organismos aquáticos, que são indiretamente afetados pela utilização de herbicidas, por exemplo) e os processos de descontaminação de agrotóxicos do ambiente. “Também trabalhamos com outros contaminantes e atualmente temos investigado os efeitos, o tratamento e a destinação de efluentes provenientes da cafeicultura”, explica.
Souza ainda desenvolve um projeto na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Professora Hosana Salles, do município de Cachoeiro de Itapemirim. Na ação, os participantes utilizam ferramentas da ecotoxicologia (como ensaios com bioindicadores e biomarcadores) para pesquisar sobre a contaminação do córrego Santa Fé, localizado na região da escola. “Nesse projeto, os alunos são os protagonistas, ou seja, desenvolvem habilidades cognitivas e práticas para a educação científica”, ressalta.
Referência
No CCENS, Souza ministra as disciplinas de Biologia Celular para os cursos de graduação em Ciências Biológicas (licenciatura), Nutrição e Medicina Veterinária, Ecotoxicologia para o bacharelado em Ciências Biológicas e, no PPGGM, dá aulas de Mutagênese: “Atualmente, oriento trabalhos de pesquisa de dez alunos, sendo quatro graduandos, três mestrandos e três doutorandos”.
Ao longo de sua formação acadêmica (entre os anos de 1999 e 2010), ela se recorda de não ter tido nenhum professor preto ou pardo e de ter sido a única estudante negra da própria turma, além de uma das poucas negras do curso de Ciências Biológicas e da Universidade Estadual Paulista (Unesp, campus de Rio Claro, interior de São Paulo). “Ser uma professora negra na Universidade é também ser uma referência para os alunos que se veem representados naquele espaço, geralmente pela primeira vez. Porém, em vários momentos, isso ainda é motivo de estranheza por parte de muitas pessoas, sendo essa questão mais explícita fora dos muros da Universidade”, avalia ela, que é uma das 14 professoras negras do CCENS, conforme informações da Progep.
Segundo Souza, apesar de ainda haver um grande desequilíbrio em relação ao perfil racial e socioeconômico na sociedade brasileira, ao caminhar pelo campus de Alegre já é possível ver uma comunidade acadêmica mais diversa em relação ao que acontecia em sua época de graduação e pós-graduação. “A presença de professores negros nas universidades é uma conquista recente, resultado de políticas públicas como a implementação das cotas raciais nas instituições e a Lei de Cotas, de 2012. Isso permitiu que mais estudantes e professores negros ocupassem esses espaços”, conclui.
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