
A vice-reitora da Ufes, Sonia Lopes, recebeu o escritor e teólogo Frei Betto na sala de reuniões do Gabinete da Reitoria nesta quarta-feira, 16, para discutir possibilidades de apoio institucional da Universidade ao projeto do longa-metragem Betto, baseado na trajetória do autor brasileiro. A ideia é que a Ufes atue em ações extensionistas visando às comunidades interna e externa à Universidade, incluindo atividades formativas e de divulgação de temas como justiça social, educação popular e democracia, presentes na vida e na obra de Frei Betto.
Além da vice-reitora e de Frei Betto, participaram da reunião a assessora de Relações Políticas com a Comunidade Acadêmica, Patrícia Rufino; o diretor de Política Extensionista, Jorge Luiz dos Santos; o assessor de Relações Interinstitucionais, Gustavo Cardoso; o diretor do Centro de Educação (CE), Reginaldo Sobrinho; e as produtoras Evanize Sydow e Marilda Ferri, da Mirar Lejos - Associação Cultural, responsável pelo projeto do longa.
Na ocasião, foram discutidas possibilidades de exibição da identidade visual da Ufes junto ao filme, que marcará presença em diversos festivais nacionais e internacionais, além do circuito comercial. Também há a perspectiva de receber a equipe do longa para o lançamento nos campi da Universidade e participação em debates e workshops ligados à produção audiovisual.
Para a vice-reitora, Frei Betto é uma “figura emblemática” da história recente do Brasil. “Sua trajetória representa um compromisso profundo com a sociedade brasileira. Ele dedicou sua vida à luta pela democracia e pela justiça social, tornando-se uma referência ética e política. Sua obra não retrata apenas uma biografia individual, mas traduz a própria história de luta pela democracia no Brasil”, afirmou.
Filme

Em fase de produção, o longa-metragem retrata as passagens de Frei Betto por países socialistas nos anos 1980, quando atuou como um elo entre os movimentos políticos e as congregações religiosas. Combinando elementos de narrativa ficcional com registros documentais, o filme tem o ator Enrique Diaz como protagonista.
Betto integra um conjunto de ações que homenageia os 80 anos do escritor, celebrados em 2024, incluindo a realização de quatro documentários que abordam diferentes nuances da trajetória do frade dominicano, destacando sua contribuição histórica, social e cultural. O primeiro documentário, A Cabeça Pensa Onde os Pés Pisam – Frei Betto e a Educação Popular, já está disponível gratuitamente no YouTube.
Trajetória
Militante contra a ditadura militar no Brasil, Frei Betto foi preso pelo regime em 1964, por cerca de 15 dias, e de 1969 a 1973. O escritor relatou a experiência dos frades dominicanos na resistência contra a ditadura, incluindo as torturas sofridas por Frei Tito, no livro Batismo de Sangue, vencedor do Prêmio Jabuti de 1982.
Após sair da prisão, em 1974, Frei Betto morou durante cinco anos no Espírito Santo, construindo as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) em Vitória, cidade que facilitava seu trânsito pelas capitais Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. “Sofri muita pressão da família, da ditadura e da igreja para ir para fora do país. Podia ter escolhido qualquer lugar do mundo, por causa dos conventos dominicanos que estão espalhados por todos os países. Mas eu adoro o Brasil. Mesmo com risco de vida, eu queria trabalhar aqui. E tinha muito medo de sair e não poder mais voltar”, disse.
No início de sua passagem pelo Espírito Santo, ele morou no Convento da Penha, em Vila Velha, mas logo se mudou para a Ilha de Santa Maria, em Vitória.
Morando na capital capixaba, o escritor, que tinha sido dirigente nacional da Juventude Estudantil Católica (JEC), estreitou os laços com o movimento estudantil da Ufes. Agora, espera que sua obra toque os novos e os futuros universitários. “Tanto os documentários quanto o longa-metragem retratam um período do Brasil e do mundo que as novas gerações conhecem muito pouco. Eu sou da geração da utopia”, disse.
Fotos: Leandro Reis