Em expedição liderada por pesquisadores capixabas ao arquipélago de Fernando de Noronha (PE) foram encontradas quatro possíveis novas espécies de peixes e registradas 15 outras espécies jamais vistas naquela região. O resultado da expedição que contou com pesquisadores da Ufes, da Academia de Ciências da Califórnia, da Universidade de São Paulo (USP) e das universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), do Rio Grande do Norte (UFRN), do Pará (UFPA), em parceria com a ONG Voz da Natureza, está no artigo publicado nesta segunda-feira, 14, na revista Neotropical Ichthyology. A expedição foi financiada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, por meio de seleção do projeto por edital.
Por 17 dias, em outubro do ano passado, os pesquisadores exploraram a região de águas profundas de Fernando de Noronha. O pesquisador da Academia de Ciências da Califórnia e chefe da equipe, Hudson Pinheiro, que também é pesquisador associado da Ufes e da ONG Voz da Natureza, já afirma a descoberta das novas espécies de peixe gobídeo (Psilotris sp.), de peixe pedra (Scorpaena sp.), de peixe lagarto (Synodus sp.) e de peixe afrodite (Tosanoides sp.).
“Ainda não foram descritas [em publicação científica], mas são novas espécies”, garante o pesquisador, lembrando que, após a expedição, foi feito um trabalho de taxonomia das espécies, comparando características morfológicas com centenas de outros peixes para comprovar serem animais inéditos para a ciência.
O professor do Programa de Pós-Graduação em Oceanografia Ambiental (PPGOAM) da Ufes Jean-Christophe Joyeux, que participou da expedição, explica que, das quatro potenciais espécies de peixes novas para a ciência, somente uma foi capturada: a afrodite. “Os indivíduos e os tecidos estão na coleção ictiológica da Ufes, esperando uma melhoria no quadro pandêmico para serem analisados de maneira aprofundada”, afirmou. Os demais registros feitos em Fernando de Noronha foram captados por equipamentos sofisticados utilizados pela equipe.
Tecnologia
“A pesquisa conjugou três técnicas diferentes de se observar a via submarina: mergulho autônomo de alta profundidade [com uso de rebreathers, equipamento que permite mais tempo de submersão], veículo fixo com câmera e isca, e veículo remotamente operado (ROV - foto). Com isso foi possível acessar a fauna de peixes da ilha em profundidades nunca antes pesquisadas”, informou o professor Agnaldo Silva Martins, também do PPGOAM/Ufes.
Segundo ele, “os resultados permitiram colocar um outro olhar nos ambientes mesofóticos [abaixo de 30 metros de profundidade], onde a luz solar chega pouco e representa um verdadeiro refúgio da vida marinha, sobretudo para os peixes, pois são áreas menos atingidas pela pesca”. A boa notícia é a enorme biodiversidade de peixes marinhos, com surpreendentes 249 espécies, aumentando em 7% a diversidade anteriormente conhecida.
O pós-doutorando do Laboratório de Nectologia da Ufes João Teixeira, que operou o ROV (robô submarino equipado com câmeras de vídeo e sensores) durante a expedição, conta que além da biodiversidade encontrada nas águas profundas de Fernando de Noronha, a expedição registrou imagens de agregações reprodutivas de peixes comerciais, como dentão, cortejos e rituais de acasalamento de espécies de garoupas. “Com o ROV podemos fazer registros a 140 metros de profundidade, permitindo trabalhar com mais tranquilidade, sem colocar em risco a integridade física dos pesquisadores”, afirma, relatando imagens em detalhes de algas calcárias, fundos rochosos, de areia e corais capturadas no arquipélago.
Outra tecnologia utilizada na expedição foi o BRUVS, que consiste em base montada embaixo d’água, numa gaiola, com duas câmeras para filmar e, a partir das angulações, fazer a medição dos peixes. “Com isso foi possível aferir a biomassa dos peixes, especialmente dos predadores, pois utilizamos uma isca que atrai esse tipo de animal”, afirmou Teixeira. A operação do BRUVS ficou por conta do doutorando do PPGOAM/Ufes Caio Pimentel.
“Esse trabalho ressalta a importância de se aliar alta tecnologia, parcerias com pesquisadores de diversas instituições do mundo e o trabalho em equipe para avançar no conhecimento que pode ajudar na geração de medidas mais eficazes de conservação dos ecossistemas marinhos”, afirmou o professor Agnaldo Silva Martins.
Texto: Sueli de Freitas
Imagens: Luiz A. Rocha e Cristian Dimitrius (ROV)
Edição: Thereza Marinho