Em um cenário de quase duas mil propostas, os projetos desenvolvidos pela professora Fabiana Pessoa, do Departamento de Ciências da Saúde, e pelo professor Marcio Pessoa, do Departamento de Ciências Naturais, ambos do campus de São Mateus, foram aprovados no programa Catalisa ICT. O programa é uma iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) nacional, que tem como objetivo impulsionar negócios de base tecnológica (deeptech), transformando pesquisas acadêmicas em inovações transformadoras que fomentem o desenvolvimento econômico e social.
O projeto da professora, intitulado Soluções em Materiais Vetorizados Sustentáveis e Bioativos Multifuncionais aplicados à Fotoproteção, consiste em uma plataforma tecnológica para criar uma nova geração de fotoprotetores. O objetivo é resolver problemas clássicos dos protetores solares, como o sensorial ruim, o resíduo esbranquiçado na pele, e principalmente a ardência nos olhos.
Para isso, foram utilizadas nanotecnologia e biomateriais, como o desenvolvimento de um óxido de zinco inovador e o aproveitamento de resíduos da agroindústria do café para criar um ativo antioxidante. “É uma proposta que une alta performance, segurança e sustentabilidade. Para a execução, contei com a colaboração de dois grandes especialistas na área, os professores George Ricardo Andrade, da Ufes, e André Baby, da Universidade de São Paulo (USP)”, conta.
A experiência com o desenvolvimento de produtos e nanotecnologia vem desde o doutorado e da atuação na indústria, há mais de dez anos. A motivação para desenvolver essa proposta, especificamente, surgiu da percepção de que, apesar de o mercado de fotoprotetores ser maduro, ainda existem dores crônicas do consumidor que não são bem resolvidas, como por exemplo, a ardência nos olhos, uma barreira que limita o uso correto e diário do produto.
“Além disso, há uma demanda crescente por produtos multifuncionais, que protegem e tratam a pele ao mesmo tempo, e que sejam sustentáveis. Nossa proposta atende a essas três frentes: melhora a experiência de uso, oferece benefícios anti-idade e se alinha à economia circular e ao conceito de 'beleza limpa'", detalha.
Indústria petrolífera
Já o projeto desenvolvido pelo professor, denominado Inovação na Indústria Petroquímica: Controle Magnético da Viscosidade do Petróleo, se propõe a buscar solução para um grande desafio da indústria de petróleo: a alta viscosidade do óleo bruto, que dificulta seu transporte e processamento.
“A ideia central é utilizar campos magnéticos como uma ferramenta para controlar essa viscosidade e fazer o óleo fluir mais facilmente. O objetivo é desenvolver um processo mais limpo, seguro e eficiente, que possa reduzir a necessidade de aditivos químicos e o alto consumo de energia dos métodos atuais”, explica.
Para a execução do plano, ele contou com a ajuda e o conhecimento dos também professores Paulo Sérgio Moscon, Edson Caetano e Valberto Nascimento, todos da Ufes. A principal motivação, conta, foi a oportunidade de aplicar a ciência básica, feita no laboratório, para resolver um problema de grande impacto para a indústria e a sociedade.
“O setor de petróleo é estratégico para o Espírito Santo e para o Brasil, mas enfrenta desafios de sustentabilidade e eficiência. “Vimos o potencial de usar nossa expertise em magnetismo para criar uma solução mais limpa e que pode reduzir significativamente os custos operacionais do setor. É uma chance de alinhar a pesquisa acadêmica às demandas por inovação e sustentabilidade do mercado”, conclui.
Potencial
Após anos de dedicação a pesquisas em suas áreas de estudos, os professores não escondem o orgulho pela aprovação das propostas. “O Catalisa ICT é um programa de altíssima competitividade nacional, e ter nossas propostas selecionadas entre quase duas mil é a validação de que estamos no caminho certo. Mostra que a ciência que fazemos na Ufes tem relevância e potencial para se transformar em inovação de impacto”, comemora Fabiana. “O sentimento é de grande satisfação e ao mesmo tempo de responsabilidade. Ser selecionado em um edital nacional tão competitivo nos dá a confiança e o suporte para tentar dar um passo adiante, transformando o conhecimento científico em uma solução que pode, de fato, chegar à sociedade”, completa Marcio.
Agora o projeto entra em uma fase de aceleração de nove meses, a Etapa 2 - Validar. Durante esse período, com o suporte do Sebrae, será feita a validação da tecnologia e do modelo de negócio, o que envolve capacitações, mentorias com especialistas da indústria, estudos de mercado e a estruturação de um projeto de inovação detalhado. O objetivo é mitigar os riscos técnicos e de mercado para, ao final, ter propostas sólidas e atrativas para a indústria, preparando o caminho para a transferência da tecnologia ou para a criação de uma nova empresa.
Universidade Federal do Espírito Santo