Pesquisadores da Ufes investigam células gigantes do câncer e relação com resistência a tratamentos e evolução do tumor

08/04/2025 - 16:30  •  Atualizado 09/04/2025 17:59
Texto: Sueli de Freitas     Edição: Thereza Marinho
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Ilustrações de células poliploide e  sinciciais

O Núcleo de Genética Humana e Molecular (NGHM), vinculado ao Departamento de Ciências Biológicas da Ufes, está investigando o papel das células cancerígenas gigantes na evolução agressiva do câncer e na resistência aos tratamentos. Essas células são chamadas de poliploides/multinucleadas ou PGCCs/MNGCs (sigla em inglês para polyploid/multinucleated giant cancer cells).

O trabalho é coordenado pelos professores Débora Meira e Iúri Louro, do Departamento de Ciências Biológicas. “O principal objetivo da pesquisa é compreender como e por que surgem essas subpopulações celulares e de que maneira podem ser moduladas para serem contidas e eliminadas do paciente sem causar efeitos colaterais, como resistência aos tratamentos e recidiva do câncer. A partir desse entendimento, o nosso grupo tem buscado investigar estratégias sistêmicas e bioprospectivas para modular as PGCCs/MNGCs, explica Meira. E acrescenta: “outro alvo importante de estudo são as células sinciciais (multinucleadas), objeto de um outro artigo”.

Segundo a professora, “as PGCCs/MNGCs apresentam formatos incomuns e um desequilíbrio em seu ciclo celular, contendo múltiplos conjuntos de cromossomos além do normal, o que lhes confere um tamanho muito superior ao das células tumorais convencionais”. Ela informa que essas células “foram identificadas em diversos tumores sólidos e hematopoiéticos – que se originam nas células do sistema hematopoiético, ou seja, nas células responsáveis pela produção dos elementos do sangue: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas; esses tumores geralmente se desenvolvem na medula óssea, mas também podem afetar o sangue periférico, linfonodos e outros órgãos linfoides – destacando-se pelo impacto crítico na sobrevivência tumoral".

Parceria com hospitais

Nos primeiros meses do projeto, os pesquisadores concentraram esforços na análise de materiais de pacientes atendidos em hospitais parceiros, como o Hospital Santa Rita de Cássia e o Hospital Estadual Central, referências no Espírito Santo para o tratamento de câncer de mama e do sistema nervoso central, respectivamente.

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Imagem da capa do livro PGCC: uma resposta complexa do câncer

“Nessa etapa, o foco tem sido identificar e diferenciar a morfologia das PGCCs/MNGCs – estrutura, aspecto e tamanho – em relação a outras células tumorais comuns, utilizando ferramentas baseadas em inteligência artificial. Esse passo é fundamental para compreender a dinâmica dessas células no tumor e facilitar sua identificação em experimentos futuros.

Na próxima fase, o estudo avançará para a análise de lâminas obtidas em colaboração com o Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e o Instituto Nacional do Câncer (Inca), instituições de referência na pesquisa oncológica no Brasil. Além disso, para comprovações experimentais, serão realizados ensaios de cultura celular, análises de química analítica e outras abordagens laboratoriais para aprofundar o entendimento sobre essas células e testar possíveis intervenções terapêuticas.

A professora Meira lembra que, desde 2022, o grupo vem gerando publicações de destaque na área, desenvolvendo novas abordagens para a avaliação de lâminas patológicas e revisões bibliográficas sobre a complexidade das PGCCs/MNGCs. 

“Esses trabalhos resultaram na publicação do livro PGCC: uma resposta complexa do câncer (foto),  além de três artigos internacionais e mais de sete trabalhos apresentados em eventos nacionais e internacionais, incluindo o 1st International Conference on Polyploid Giant Cancer Cells, em Houston, Texas, e o XVI Simpósio Bases Biológicas del Cáncer y Innovación Terapéutica, em Salamanca, Espanha", destaca.

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