Pesquisadores da Ufes identificam microplásticos no mar que banha a Ilha da Trindade

18/08/2025 - 16:53  •  Atualizado 19/08/2025 13:20
Texto: Sueli de Freitas
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Foto geral da ilha de Trindade

A equipe do projeto Avaliação da poluição por resíduos de plástico usando diferente matrizes ambientais em ilha oceânica – Ilha de Trindade/Brasil, desenvolvido pelo Laboratório de Biologia Costeira e Análise de Microplástico (LaBCAM) da Ufes, sob coordenação da bióloga Mercia Barcellos, identificou a presença de microplásticos no mar da ilha. “Em alguns litros de água do mar foram contabilizadas mais de 300 partículas plásticas. Esse resultado nos mostra que nem mesmo ambientes remotos e com baixa atividade humana estão protegidos desses poluentes”, afirma a bióloga e colaboradora do LaBCAM Mariana Otegui.

Além das amostras de água, já processadas no LaBCAM, foram feitas coletas em sedimentos marinho e terrestre. As taxas de contaminação em gastrópodes (moluscos) e em caranguejos nativos (Johngarthia lagostoma e Grapsus grapsus) serão analisadas a partir das coletas feitas na ilha. Para o estudo de poluição atmosférica, foram coletadas teias de aranha.

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Pesquisador coletando material na areia da praia
Durante a expedição foram coletadas amostras em sedimentos marinho e terrestre, em moluscos  gastrópodes, no caranguejo amarelo e em teias de aranha

A expedição a Trindade, que fica no oceano Atlântico, a aproximadamente 1.200 quilômetros de Vitória, saiu do Rio de Janeiro no dia 14 de julho. Como o acesso à ilha é restrito a oficiais da Marinha do Brasil e a pesquisadores vinculados ao Programa de Pesquisas Científicas na Ilha da Trindade (ProTrindade), a equipe do LaBCAM embarcou no Navio de Patrulha Oceânica (APA). 

O trabalho na ilha ficou a cargo de quatro pesquisadores do LaBCAM: Gustavo Zambon e Mateus Marçal, alunos do curso de Ciências Biológicas; Bruna Luz, estudante do curso de Oceanografia, e Otegui. A expedição durou ao todo dez dias, dos quais seis foram embarcados e quatro na ilha.

Segundo a colaboradora do LaBCAM, neste momento os pesquisadores estão na fase de processamento das amostras para identificação e caracterização de microplásticos. Ela explica que existem diversos tipos do material, sendo os mais comuns filamentos e fragmentos, muitas vezes resultantes da degradação de plásticos maiores.

Numa outra classificação, além da forma, os microplásticos são caracterizados pela cor e composição química do polímero, a fim de tentar encontrar a origem desses materiais (PET, PVC, Nylon e outros).

“São várias etapas de processamento de amostras. Terminamos, até o momento, a análise da água do mar, onde encontramos uma maior quantidade de filamentos azuis. Esse material pode estar associado às redes de pesca”, afirma.

O projeto do LaBCAM – integrado ao Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Análise de Petróleos (LabPetro), ambos vinculados ao Departamento de Química – visa avaliar a poluição por resíduos de plástico no arquipélago Trindade e Martim Vaz. Aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na chamada 17/2024 – Programa Arquipélago e Ilhas Oceânicas, o projeto tem  aporte financeiro da ordem de R$ 289.450.

O que são microplásticos?

Os microplásticos são partículas menores que 0,5 milímetro. Pesquisas sobre o tema mostram que eles estão por toda parte, inclusive no corpo humano (em placentas, sêmen e cérebro, por exemplo), causando problemas de saúde.

Quanto à sua origem, os microplásticos podem ser classificados como primários, que são produzidos intencionalmente com esse tamanho e têm diversas aplicações na indústria de cosméticos e de produtos de limpeza, ou como secundários, quando se originam da degradação de plásticos maiores.

Fotos: Gustavo Zambon

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