Filme vencedor do Festival de Cinema de Vitória estreia nesta quinta-feira, 8, em sessão especial no Cine Metrópolis

07/08/2024 - 21:04  •  Atualizado 08/08/2024 19:46
Texto: Leandro Reis     Edição: Thereza Marinho
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Foto da artista Rubiane Maia sentada em uma poltrona em um píer de frente para o mar, em uma cena do filme Presença

Grande vencedor do 31º Festival de Cinema de Vitória, o documentário Presença estreia no Cine Metrópolis nesta quinta-feira, 8, às 19h30, em uma sessão especial com a presença do diretor e professor do Departamento de Comunicação Social da Ufes (DepCom) Erly Vieira Jr. A exibição será seguida de debate com Vieira Jr., a editora do longa Carol Covre e o pesquisador Geovanni Lima. Os ingressos estão à venda pelo site LeBillet.

Presença retrata a trajetória dos artistas Castiel Vitorino Brasileiro, Marcus Vinícius e Rubiane Maia, reconhecidos internacionalmente por performances que refletem sobre os limites do corpo. Egressos dos cursos de Artes Visuais e Psicologia da Ufes, nos últimos anos os performers levaram seus trabalhos para grandes centros da arte contemporânea, participando de residências artísticas e exposições coletivas e individuais pelo mundo.

Estreia de Erly Vieira Jr. na direção de um longa-metragem, Presença reúne imagens de arquivo, performances inéditas e depoimentos dos artistas sobre seus processos criativos. Além do professor do DepCom, a equipe do filme conta com edição de som, desenho sonoro e parte da trilha sonora feitos por Marcus Neves, professor do curso de Música da Universidade. A direção de fotografia e a produção-executiva é de Ursula Dart, também egressa da Ufes.

Selecionado para a Mostra Competitiva do Rio LGBTQIA+ 2024 - 13º Festival Internacional de Cinema, o documentário foi o grande vencedor do 31º Festival de Cinema de Vitória, levando os prêmios de Melhor Filme (Júri Popular e Júri Técnico), Melhor Roteiro e Melhor Contribuição Artística. Além da estreia no Metrópolis, Presença passa por 14 salas em dez estados brasileiros.

Morte precoce

Vieira Jr. conheceu Marcus Vinícius e Rubiane Maia desde que começaram a desenvolver seus trabalhos no Espírito Santo, nos anos 2000. O professor e os artistas ficaram amigos em meio ao crescimento da carreira de Maia e Marcus Vinícius, que passou a morar fora do país. “Iríamos trabalhar juntos pela primeira vez justamente na época em que ele faleceu precocemente, em 2012”, lembra Vieira Jr. Marcus Vinicius foi encontrado morto aos 27 anos em Istambul, na Turquia, quando seu trabalho como performer decolava.

Após a morte do artista, a família de Marcus Vinícius procurou Vieira Jr. para mediar a doação do acervo para a Galeria de Arte Espaço Universitário (Gaeu). A surpresa do diretor foi encontrar arquivos digitais de todos os seus trabalhos “meticulosamente organizados”, além de outros registros poéticos e materiais inéditos, entre fotografias e vídeos. Com o desejo de fazer circular a obra do artista, Vieira Jr. organizou o livro Marcus Vinícius: A presença do mundo em mim, em 2016, e lançou neste ano o site Imensidão Íntima - Acervo Audiovisual Marcus Vinícius, disponibilizando sua obra audiovisual completa.

“Nesse meio tempo, veio também o desejo de fazer um filme que dialogasse com a potência daquele corpo em estado de performance. E que foi depois se estendendo às outras duas artistas, pelas diversas afinidades entre esses trabalhos”, afirma o diretor de Presença, que trabalhou com Castiel Vitorino Brasileiro em um evento na Galeria Homero Massena, no Centro de Vitória.

Questões como a desobediência dos corpos diante de papeis sociais, suas conexões com a natureza, a racialidade e a fragilidade da experiência humana conectam os três artistas, diz Vieira Jr. “O que sempre me encantou como espectador de performance artística é justamente essa potência que os corpos têm em fazer os nossos corpos reverberarem junto, nas mais diversas reações que eles provocam. E a performance tem um grau de imprevisibilidade que é fascinante – a gente sabe o início de uma situação, mas nunca dá pra prever para onde ela irá nos levar”.

Pesquisa

Pesquisador do realismo sensório no cinema – com livro publicado pela Edufes sobre o tema –, Vieira Jr. entende que o filme dialoga com sua pesquisa sobre o audiovisual contemporâneo e um outro tema que vem desenvolvendo na Ufes a respeito das relações entre corpo, mídia e artes visuais.

“De um lado, eu tendo cada vez mais a entender a nossa relação espectatorial com os meios audiovisuais a partir de uma perspectiva multissensória, que atravessa nossos corpos com a mesma intensidade que ativa nossos processos racionais”, explica. “Por outro lado, tem toda uma abertura a um impensado do corpo, às opacidades, aos mistérios, que se dá quando contemplamos as obras desses artistas abordados no filme”, diz. Ele finaliza a reflexão com uma frase de Marcus Vinícius, citada no documentário: “‘Não só vemos o mundo com nossos olhos, mas também através dos sonhos.’ Acho que é nessa encruzilhada que o filme faz questão de se situar e provocar reflexões”.

Imagem
Imagem de uma moça negra saindo de uma casa com uma bolsa no ombro em cena do filme Greice

Estreia

Além de Presença, o Cine Metrópolis estreia nesta quinta-feira o filme Greice, de Leonardo Mouramateus. O longa acompanha uma jovem brasileira que vai estudar Artes em Portugal. Na trama, Greice se envolve com o misterioso Afonso e, depois de uma festa de recepção a calouros, o casal é acusado de um estranho acidente ocorrido no evento. Quando volta a Fortaleza, sua cidade natal, a jovem se esconde num hotel para evitar que sua mãe descubra a confusão em que se meteu. O filme foi premiado no 13º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba.

Seguem em cartaz Orlando, Minha Biografia Política, documentário de Paul Preciado, e o drama Caminhos Cruzados, de Levan Akin.

Confira as sinopses de todos os filmes em cartaz de 8 a 14 de agosto no Cine Metrópolis:

Presença, de Erly Vieira Jr. (Brasil, 2024)

Três artistas afro-brasileiros de formação capixaba, com carreiras reconhecidas internacionalmente, transmutam-se a cada performance. Marcus Vinícius, Rubiane Maia e Castiel Vitorino Brasileiro fazem uma reflexão sobre os limites que apontamos para nossos próprios corpos.

Greice, de Leonardo Mouramateus (Brasil, 2024)

Greice, uma jovem brasileira de 21 anos, estuda na Universidade de Belas Artes de Lisboa. Ela se envolve com o misterioso Afonso. Depois de uma festa de boas-vindas para novos estudantes, o casal é acusado de um estranho acidente que ocorreu no evento. De volta a Fortaleza, sua terra natal, ela tenta encontrar seu lugar no mundo.

Orlando, Minha Biografia Política, de Paul Preciado (França, 2023)

O filme foi feito um século após a publicação do livro Orlando: Uma Biografia, da autora Virginia Woolf, em 1928. Este livro se consagrou como sendo o primeiro romance em que o personagem principal passa pela transição de gênero no meio da história. O diretor trans, escritor, filósofo e ativista Paul Preciado, envia uma carta à escritora inglesa para dizer a ela que seu personagem se tornou realidade: seu Orlando saiu da ficção e vive como ela jamais poderia ter imaginado. Preciado chama um elenco de “Orlandos contemporâneos”, ou seja, 26 pessoas trans e não binárias, de oito a 70 anos de idade, para viverem o protagonista.

Caminhos Cruzados, de Levan Akin (Dinamarca/França/Geórgia/Suécia/Turquia, 2024)

O filme apresenta Lia (Mzia Arabuli), uma professora aposentada da Georgia. Após o desaparecimento de sua sobrinha Tekla, uma mulher trans, Lia recebe a informação do jovem Achi (Lucas Kankava), seu vizinho imprevisível, de que Tekla cruzou a fronteira e está morando na Turquia. Com a intenção de procurar a sobrinha e trazê-la de volta para casa, Lia junta-se a Achi e ambos viajam para Istambul, onde seus caminhos se cruzam com os da advogada trans Evrim (Deniz Dumanli), que oferece ajuda na busca. Enquanto os três vão mergulhando pelas ruas de Istambul, percebem que Tekla pode estar mais perto do que nunca. 

Confira os horários das sessões no site do Cine Metrópolis.

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