
Dois estudos desenvolvidos por pesquisadoras do Laboratório de Biologia Costeira e Análise de Microplásticos (LabCam/Ufes), que tratam da abundância de microplásticos (MPs) em praias e mangues de Vitória e Aracruz, foram publicados nas revistas inglesas Science of the Total Environment e Marine Pollution Bulletin, duas das mais influentes do mundo na cobertura de pesquisas inovadoras sobre ciência ambiental e poluição marinha. Os trabalhos garantiram espaço no periódico após chegarem a dois resultados inéditos: a confirmação dos efeitos negativos do processo de engordamento em praias de Vitória; e a verificação de que espécies de moluscos comestíveis de mangues de Aracruz estão contaminados por MPs.
Ambos os artigos tiveram origem nas dissertações de mestrado das biólogas Midiã de Paula e Karina Menezes (finalizadas em 2022 e 2024, respectivamente), que contaram com a orientação da coordenadora do LabCam/Ufes, Mércia Barcellos. O trabalho de Paula foi realizado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (PPGBan/Ufes) e, em parceria com pesquisadores da Universidade de Quebec à Rimouski (Canadá), replicou um estudo de 2020 realizado pela equipe do LabCam/Ufes nas praias de Camburi e Curva da Jurema, em Vitória, após o engordamento da faixa de areia.
Engordamento e poluição
A pesquisadora identificou que não apenas a quantidade, mas também as características dos microplásticos mudaram drasticamente após o processo de engordamento, indicando que o sedimento utilizado para a intervenção afetou a quantidade de microplásticos nos locais estudados. “Esse foi o primeiro artigo que correlaciona o processo de engordamento de praias com o aumento da poluição por microplásticos na área engordada. Levando-se em consideração que o engordamento é um processo amplamente utilizado em praias de todo o mundo para corrigir a erosão da faixa de areia e que os MPs são uma preocupação crescente, nossos resultados alertam para a necessidade da realização de estudos prévios sobre a qualidade do sedimento nas jazidas em relação à presença de microplásticos e que esses estudos sejam levados em consideração durante o planejamento de intervenções”, avalia ela.
Publicado na Science of the Total Environment, o artigo Can microplastic pollution be affected by beach nourishment? Assessment in intertidal sediment and bivalves (A poluição por microplásticos pode ser afetada pelo engordamento da praia? Avaliação em sedimentos intermareais e bivalves, em tradução livre) foi assinado junto com João Marcos Schuab, Emilien Pelletier, Youssouf Soubaneh, Veronique Langlois e Mércia Barcellos.

Manguezal
Já a pesquisa de Menezes avaliou a presença, a quantidade e a composição de microplásticos no manguezal dos rios Piraque-Açu e Piraque-Mirin, localizados em Aracruz, por meio de análises dos tecidos de espécies de moluscos bivalves, da água e de sedimentos. O estudo foi realizado durante o mestrado da pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, apesar da ligação institucional com a universidade sulista, foi totalmente desenvolvido no LabCam/Ufes, sob orientação extraoficial de Barcellos.
Os resultados revelaram alta concentração de microplásticos no material analisado. “As espécies analisadas são utilizadas para consumo humano, o que representa uma via de exposição ao consumi-los. Além disso, os microplásticos podem atuar como vetores para a transferência de contaminantes químicos associados, como pesticidas e metais pesados, que podem ter efeitos tóxicos adicionais”, ressalta Menezes.
A dissertação deu origem ao artigo Microplastic contamination in the mangroves of Piraquê-Açu and Piraquê-Mirim rivers, Aracruz (Brazil): an analysis in sediment, water, and biota (Contaminação por microplásticos nos manguezais dos rios Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim, Aracruz (Brasil): uma análise em sedimento, água e biota, em tradução livre), que foi publicado na revista Marine Pollution Bulletin. Além de Menezes e Barcellos, João Marcos Schuab, Gustavo Dalbo, Mateus Alves, Enrique Ocarisd e Fábio Rodrigues também assinam o trabalho.
De acordo com Menezes, este foi o maior trabalho realizado com tais amostras desse manguezal já publicado. “É um grande marco para pesquisadores da área ambiental, especialmente aqueles que trabalham com poluição marinha, como microplásticos. Ter publicações em revistas bem conceituadas como esta pode proporcionar parcerias com outros pesquisadores da área, o que vai embasar políticas públicas e estratégias de mitigação voltadas para a preservação dos ecossistemas costeiros”, conclui.
Fotos: Acervo da pesquisa