Ao longo desta quinta-feira, dia 29, o auditório do Centro de Educação (CE), no campus de Goiabeiras, recebeu um grande público para prestigiar o evento Dia de África na Ufes, que foi organizado pela Liga dos Universitários Africanos (LUA) em parceria com as secretarias de Ações Afirmativas e Diversidade (SAAD), de Cultura (Secult) e de Comunicação (Secom); o Núcleo de Estudos (Neab); e o bloco afro Coisas de Negres.
O evento contou com a presença do reitor da Universidade, Eustáquio de Castro, e da vice-reitora, Sonia Lopes, de representantes do movimento negro capixaba, membros da LUA, pesquisadores, estudantes e servidores da Ufes. Na abertura, Castro enfatizou a importância da celebração do Dia de África, especialmente pela quantidade significativa de estudantes do continente na Ufes. Atualmente, a Universidade conta com 124 alunos de origem africana, incluindo graduandos, pós-graduandos e integrantes do Programa de Estudantes-Convênio/Português-Língua Estrangeira (PEC-PLE).
“Esta comemoração é uma maneira de a Universidade se conectar mais com o continente africano e isso é extremamente importante porque, se olharmos do ponto de vista da cultura e da ciência, nós temos uma ligação muito forte com a África. Essa integração e as reflexões que sairão desse encontro vão trazer um ganho muito grande para nossa comunidade”, avaliou o reitor.
A vice-reitora ressaltou que o evento é um momento de afirmação, reconhecimento e fortalecimento dos laços históricos, culturais e científicos que unem o Brasil ao continente africano: “Este evento nos convida a refletir sobre as muitas formas de produção de conhecimento que emergem das experiências africanas e afrodiaspóricas. Valorizar essas vozes é um passo para uma universidade verdadeiramente democrática, plural e comprometida com a justiça social”.
Além do reitor e da vice-reitora, participaram da mesa de abertura o coordenador do bloco Coisas de Negres, Edson Bonfim; a coordenadora do Neab, Marluce Simões; o representante da Rede de Matriz Africana (Rema), Geová Silva; o representante da Secretaria de Relações Internacionais (SRI), Frederico Rigoni; o secretário de Ações Afirmativas e Diversidade, Gustavo Forde; o presidente da LUA, Evrad Ngalamou; e o coordenador do Centro de Estudos da Cultura Negra no Estado do Espírito Santo, Luiz Carlos Oliveira.
Um dos fundadores da LUA, o camaronense Ngalamou relembrou a história por trás do dia 25 de maio, data em que o mundo celebra o Dia de África: “Foi nesta data, em 1963, em Abdis Abbeba [capital da Etiópia], que se criou a Organização da Unidade Africana (OUA) com o objetivo de defender e emancipar o continente africano. Como africanos que somos, este dia nos recorda as lutas pela independência do continente africano contra a colonização europeia e contra o regime do Apartheid, assim como simboliza o desejo de um continente mais unido, organizado, desenvolvido e livre da opressão econômica e intelectual”.
Valores negro-africanos

A conferência de abertura ficou sob responsabilidade do mestre e doutor em Educação Severino Lepê Correia, que falou sobre ciência, cosmovisão e valores civilizatórios negro-africanos no Brasil e sobre cultura organizacional antirracista. Para ele, que é pesquisador do Núcleo de Identidades e Memórias do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGE/UFPE), é “valorosamente necessário” que a história do povo africano seja reescrita e refeita, a fim de que as criações, as lutas políticas e as construções africanas deixem de ser invisibilizadas pelos colonizadores.
“Nós precisamos descongelar essa parte para que voltemos à atividade para a qual nossos ancestrais e nossos antepassados nos designaram, para que possamos dar continuidade a uma relação de equidade na qual a lei, a justiça, os benefícios, as glórias e o sucesso possam ser coisas de todos e não apenas do colonizador que submeteu os povos indígenas e os povos negros. Então, é muito importante reler, reescrever e repensar essa história para sairmos desse ‘conto da carochinha’ e darmos continuidade a tudo aquilo que nossos antepassados deixaram para que pudéssemos estar aqui hoje”, ressaltou o intelectual.
Na sequência, o público acompanhou a palestra África através do sabor, ministrada pelo chef congolês e professor de gastronomia africana Chez Kimberly, que tratou de temas como educação e culinária e a culinária como ponte cultural. Ele também apresentou alguns “pratos que contam histórias”, como fufu (mandioca com farinha de milho ou banana) e sekelembe (folhas africanas secas com molho de amendoim, gengibre e cebola).
Na parte da tarde, o evento teve prosseguimento com duas mesas redondas. Na primeira, os estudantes africanos António Sambú (graduação em Engenharia da Computação), Josefina Silva (doutorado em Política Social), Cesário Lopes (doutorado em Educação) e Nobi Symphorienne (graduação em Medicina) conversaram sobre o tema Celebrar o Dia da África na Universidade: vivências e vozes de estudantes internacionais com trajetórias africanas no espaço acadêmico e, da segunda, participaram os pesquisadores do Neab Osvaldo Martins e Cleyde Amorim e o coordenador do Coisas de Negres, Edson Bomfim, que abordaram questões que envolvem a temática Patrimônio de África e diáspora afrobrasileira: cultura e sociedade.
Desfile e apresentações musicais
Durante a tarde ainda aconteceu o desfile de tecidos e roupas africanas Riquezas e significados. No início da noite, as apresentações culturais foram abertas pela dupla Eri e Eugênio, que cantou músicas tradicionais de Cabo Verde. O bloco afro Coisas de Negres, que atua pela valorização da cultura afro-brasileira, pelo fortalecimento das lutas negra, feminista, anti-LGBTfóbica e contra todas as formas de preconceito e discriminação, fechou a noite.
Foto: Adriana Damasceno e Ana Oggioni