Descoberta radiológica acelera diagnóstico de doença que atinge o Sistema Nervoso Central

12/08/2025 - 12:41  •  Atualizado 12/08/2025 12:44
Texto: Sueli de Freitas
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Imagem de ressonância magnética feita no cérebro

Em pesquisa inédita, um grupo da Ufes descreveu achados em exames de imagem, principalmente em ressonância magnética, que podem antecipar o diagnóstico de neurocriptococose – uma doença infecciosa que atinge o Sistema Nervoso Central e é causada por fungos das espécies Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, encontrados em solo contaminado com excrementos de animais e madeira em decomposição. 

A pesquisa rendeu a publicação de dois artigos: Ensinando NeuroImage: Criptococose no Sistema Nervoso Central Mimetizando Neurocisticercose, que saiu na Neurology, uma das maiores revistas de neurologia do mundo; e O espectro dos achados radiológicos em neurocriptococose: uma série de casos e revisão sistemática, publicado na revista Radiologia Brasileira.

A neurocriptococose atinge, especialmente, pessoas com sistema imunológico comprometido, como pacientes com aids, receptores de órgãos transplantados e indivíduos com doenças hematológicas malignas, e também pacientes imunocompetentes, ou seja, que não têm alteração na imunidade. Há alto risco de óbito e desenvolvimento de sequelas neurológicas permanentes.

“Nosso grupo descobriu e descreveu, pela primeira vez, uma lesão cística com um nódulo periférico dentro dessa lesão acontecendo em pacientes com neurocriptococose. Essa descoberta ajuda a fazer o diagnóstico precocemente e a tratar os pacientes de forma assertiva, evitando a mortalidade, pois é uma doença gravíssima”, explica o professor de Radiologia Marcos Rosa Júnior, do Departamento de Clínica Médica da Ufes.

O estudo foi desenvolvido por Rosa Jr. junto com pesquisadores do setor de neurorradiologia do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam): Cláudia Biasutti, infectologista do Hucam; Eduardo Cots e Anna Luisa Campos, médico e médica residentes; e Kezia Pinheiro e Matheus Rassele, ex-estudantes do curso de Medicina da Ufes.

Destacando a importância do estudo, Rosa Jr. explica que os critérios de diagnóstico de outra doença infecciosa, a neurocisticercose – causada por tênia que se aloja no cérebro –, apontavam que a presença nos exames de imagem de lesão cística com nódulo (comparável a uma pequena bola) confirmava com quase certeza a neurocisticercose. “O que nosso grupo descobriu é que a presença dessa lesão cística com um nódulo dentro não é patognomônico de neurocisticercose, ou seja, não é um sinal tão específico a ponto de diagnosticar essa doença, pois pode acontecer também na neurocriptococose, como descrevemos”, diz o professor.

Casos

Em uma das publicações científicas, os pesquisadores envolvidos relatam que selecionaram nove casos de neurocriptococose  – oito tratados no Hucam e um em outra instituição hospitalar – surgidos entre maio de 2014 e maio de 2022. Também foi feita uma revisão sistemática da literatura científica para identificar os padrões de acometimento que podem subsidiar o diagnóstico de neurocriptococose em exames de imagem, usando as bases de dados PubMed, Embase e Lilacs para identificar artigos publicados entre julho de 1978 e maio de 2022.

“Fizemos a revisão sistemática com busca na literatura, incluindo 416 artigos, e não encontramos essa descrição. Então, descrevemos pela primeira vez um caso específico na revista internacional. Para ilustrar o segundo artigo, foram escolhidos nove casos de neurocriptococose”, explica Rosa Jr.

O professor informou que “depois da descrição da ocorrência das imagens [relacionando-as à neurocriptococose], no nosso próprio serviço [de saúde] apareceram outros casos semelhantes. Em um deles, rapidamente foram investigadas as duas doenças [neurocriptococose e neurocisticercose] para que não houvesse dúvida no diagnóstico final. Hoje, outros pesquisadores estão descrevendo esse achado e citando nosso trabalho inicial. Assim, ajudamos não só os nossos pacientes, mas a literatura mundial”. 

A pesquisa foi parcialmente apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).

Imagem: Acervo da pesquisa

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