O professor Carlos Nobre, coordenador científico do Instituto de Estudos Climáticos da Ufes (IEC-ES), foi eleito este mês membro da Royal Society, prestigiada instituição britânica destinada à divulgação e promoção científica. Nobre é o segundo brasileiro, junto com Dom Pedro II, a ser aceito como membro da instituição, que seleciona seus membros a partir das contribuições científicas nas mais diversas áreas do saber.
Carlos Nobre é um dos principais pesquisadores que estudam a Floresta Amazônica, as mudanças climáticas e o aquecimento global, tendo recebido diversos prêmios por sua atuação. É um dos autores do Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007, além de pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas e diretor da Amazon Third Way Initiative/Projeto Amazônia 4.0, que busca aprimorar as cadeias produtivas da Amazônia de forma sustentável, com fábricas portáteis e altamente tecnológicas.
Atuação na Ufes
Na Ufes, sua atuação no IEC-ES busca estimular a formação e qualificação de pesquisadores nas temáticas de mudanças climáticas e de integrar competências entre academia e setor produtivo. A ação do instituto busca potencializar ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação voltadas a gerar processos, produtos e resultados técnico-científicos capazes de responder às questões referentes às mudanças climáticas e seus impactos socioeconômicos e ambientais.
Neyval Reis Jr., professor do Departamento de Engenharia Ambiental que coordena o IEC-ES, conta que o instituto nasceu a partir de uma proposta de Nobre à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito (Fapes). “Ele idealizou o projeto, junto com a Fapes, e ajudou a constituí-lo. Nosso trabalho envolve a identificação e previsão de cenários futuros em relação a mudança climática, chuva, estiagem e outros fatores. A partir de fatores climáticos, de crescimento e de sustentabilidade globais e locais, que envolvem, por exemplo, a emissão de carbono, o instituto prevê os cenários e seu impacto sobre a humanidade”, explica Reis Jr.
O trabalho do instituto, que é financiado pela Fapes e pela Vale, tem embasado ações de órgãos públicos capixabas nas áreas de meteorologia, defesa civil e recursos hídricos, no sentido de evitar desastres, prever secas e resistir ao clima. “Carlos Nobre é peça-chave, principalmente nos estudos de cenários meteorológicos”, completa Reis.
O pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Ufes, professor Valdemar Lacerda Jr., destacou a importância do reconhecimento recebido por Nobre. “A entrada do professor Carlos Nobre na Royal Society premia o excelente professor e pesquisador e, com certeza, muito orgulha à Universidade tê-lo como pesquisador e colaborador no Instituto de Estudos Climáticos da Ufes”, afirma, lembrando que o cientista atua, também, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, colaborando com pesquisadores em formação.
Primeiro cientista brasileiro
A Royal Society, que atua desde 1660 e é uma das mais antigas sociedades científicas do mundo, reconheceu, este ano, 61 pessoas, sendo 51 como bolsistas, dez como membros estrangeiros e um bolsista honorário. “Carlos Nobre se une como membro estrangeiro, reconhecido por seu trabalho sobre as interações biosfera-atmosfera, os impactos climáticos do desmatamento da Amazônia e sua liderança em programas que moldaram a ciência brasileira”, indica a nota da instituição. Apesar de ser o segundo brasileiro na lista, Nobre é o primeiro cientista, pois o então imperador do Brasil integra a lista, desde 1871, como membro da realeza.
Carlos Nobre considera que a escolha da Royal Society é fruto de sua trajetória de mais de 40 anos de estudo sobre o clima e a floresta e serve “como um alerta aos riscos que a Amazônia vem correndo e aos riscos das mudanças climáticas para o Brasil”, disse, em entrevista ao Jornal da USP. O pesquisador avalia que o reconhecimento reforça o papel da ciência para reconduzir o Brasil em direção à sustentabilidade. “Não que estejamos vencendo esta guerra; está muito difícil. Mas é o papel da ciência, de expor todos os riscos que corremos com o desaparecimento das florestas, dos biomas brasileiros, com o aumento dos extremos climáticos e das queimadas. Tudo isso temos alertado, por décadas”, lembra o pesquisador, que formulou a hipótese de “savanização” da Amazônia, motivada pelo desmatamento.
O presidente da Royal Society, Sir Adrian Smith, destacou que os pesquisadores escolhidos “ajudaram a aprofundar nossa compreensão das doenças humanas, da perda de biodiversidade e das origens do universo. Também estou satisfeito em ver tantos novos bolsistas trabalhando em áreas que provavelmente terão um impacto transformador em nossa sociedade ao longo deste século, desde novos materiais e tecnologias de energia até biologia sintética e inteligência artificial”.
Texto: Lidia Neves e Vitor Guerra (bolsista em projeto de Comunicação)
Foto: Volvo Environment Prize/Divulgação
Edição: Thereza Marinho