Cine Metrópolis exibe nesta terça, 26, documentário sobre o primeiro disco de rap do Espírito Santo. Entrada gratuita

25/08/2025 - 10:29  •  Atualizado 26/08/2025 19:37
Texto: Com informações da coordenação do projeto     Edição: Thereza Marinho
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Imagem da capa do LP

O doutorando em Ciências Sociais da Ufes Luiz Eduardo Neves lança, nesta terça-feira, 26, no Cine Metrópolis, o documentário Onde Está Zumbi?. O filme integra sua pesquisa acadêmica, orientada pela professora Patrícia Paveis, e reconstrói a trajetória do LP Tributo a Zumbi (1996), considerado o primeiro registro fonográfico do rap capixaba. A exibição terá início às 19 horas e a entrada é gratuita.

Com 53 minutos de duração, a obra conduz o espectador aos anos 1990, quando a cultura hip-hop se consolidava como linguagem de resistência em um Espírito Santo marcado pela violência urbana, pelo racismo e pela ausência de políticas culturais voltadas à juventude periférica. Nesse contexto, a Ladeira São Bento, no centro de Vitória, tornou-se um ponto de encontro de artistas e militantes, funcionando como um quilombo urbano que acolheu corpos, ideias e insurgências.

A articuladora de encontros no local, Pandora Da Luz, recorda: “A Ladeira São Bento representava um espaço de força e abrigo. Estar ali era como ter um quilombo no meio da cidade, um lugar para formar pensamento, criar e se reconhecer”. A partir dessa convivência, surgiram os vínculos que conectaram diferentes grupos e deram origem à ideia de gravar um disco coletivo.

O LP Tributo a Zumbi reuniu oito grupos – Negritude Ativa, Tropa de Zumbi, Conceito Feminino, Mano Jeff & DJ Edy, DJ Criolo & Renegrado Jorge, Suspeitos na Mira, Observadores e Radicais Livres. As gravações aconteceram em estúdios improvisados, utilizando equipamentos como o teclado Roland W-30, que integrava sampler e sequenciador. A limitação técnica de poucos segundos de memória exigia soluções criativas e montagem manual das batidas, tornando cada faixa um exercício de engenhosidade coletiva. As letras abordam racismo, violência policial, desigualdade social e afirmação da identidade negra.

O documentário traz falas de quem esteve diretamente envolvido no processo. Renegrado Jorge lembra das dificuldades da época: “A gente tinha que ir para o estúdio ensaiado, nervoso, porque, com o dinheiro, não dava para errar. O vinil ficou com falhas, mas era o máximo que a gente conseguia para a época”. Sagaz, integrante do Suspeitos na Mira, reforça o valor do formato: “Lançamos o LP no auge do CD. Para nós, a cultura do vinil é um relicário. Não abríamos mão disso”.

Zumba, do Negritude Ativa, destaca a força política da faixa Ideologia do Gueto: “Ela fortaleceu meu pensamento, minha ideologia. É nós por nós, mesmo”. Já GL Preto, parceiro de Zumba no grupo, observa: “O disco se tornou um marco histórico para o hip-hop do Espírito Santo. Pouquíssimas pessoas têm acesso a ele hoje”.

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Foto dos bastidores da produção do LP, com quatro homens em um quarto com instrumentos
Foto dos bastidores da produção do LP, lançado em 1996

Memória

Para o diretor e pesquisador Luiz Eduardo Neves, a obra não se restringe a registrar uma memória: “É um filme sobre a necessidade de lembrar. O Tributo a Zumbi documenta um momento em que o hip-hop se inscreveu de forma definitiva na história cultural do estado. Um registro que conecta passado e presente, reafirmando que as batidas e vozes daquele vinil ainda reverberam nas ruas”.

A professora Patrícia Paveis destaca o valor metodológico do filme: “Esse documentário pode ser compreendido como uma etnobiografia coletiva. Ele dá voz a personagens que construíram a cena do rap capixaba e revela, a partir de suas trajetórias pessoais, os significados sociais, políticos e culturais de um movimento. Ao trazer essas memórias em primeira pessoa, a obra se inscreve na tradição da antropologia que valoriza a experiência vivida, a narrativa dos sujeitos e a força da oralidade como patrimônio imaterial. O resultado é um registro histórico que também é um gesto político de reconhecimento e preservação da memória negra e periférica”.

A realização do documentário foi viabilizada com recursos da Secretaria da Cultura do Espírito Santo (Secult/ES), por meio do Edital Funcultura nº 14/2022, destinado à seleção de projetos de Produção Audiovisual no Estado.

Ficha técnica:

• Direção e roteiro: Luiz Eduardo Neves
• Direção de fotografia: Diego Capeleti e Rafael Harduim
• Edição: Diego Capeleti
• Produção: Luciano Adriano
• Produção musical do LP: DJ Criolo, DJ Tropeço e Onival
• Elenco: DJ Tropeço, GL Preto, Mano Jeff, José Roberto Santos Neves, L.Brau, Pandora Da Luz, Renegrado Jorge, Sagaz e Zumba

Trilha sonora:

A História de Ed – Tropa de Zumbi
Futuro Destruído – Mano Jeff
Ideologia do Gueto – Negritude Ativa
Verdades – Radicais Livres
Olho por Olho – Suspeitos na Mira
Vítimas do Submundo – Conceito Feminino
Zulunegão – Renegrado Jorge

Imagens: coordenação do projeto

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